Não é que a vida é uma sucessão de altos e baixos no percurso do nosso dia-a-dia. Isto então implica uma mudança de tempos, climas, circunstancias e dramas conforme a direcção evolutiva em que o homem se depara. Portanto será incompreensível se as circunstâncias da vida não alteram durante todo o dia, toda a semana, todo o mês, ano, décadas e décadas. Dali o homem angolano como eu será chamado a implorar os deuses dos seus antepassados para que uma mudança seja operada. Ou talvez o sujeito corre-se o risco de ser considerado disto ou daquilo pela curiosidade familiar ou mesmo infantil, dos candengues que observam nos arredores. Já ouvimos sobre cotas azarados, cotas miseráveis, cotas salada-russas etc só porque alguém entendeu que estes vivem uma sucessão de círculos viciosos nas suas vidas. Uma vida sem alterações, sem mudanças, aquela vida de certos angolanos que foram refugiados, nasceram filhos refugiados e hoje tem netos refugiados enfim de gerações a gerações serão refugiados; mas porquê. Assim é a vida das maiorias que de gerações a gerações pertenceram as classes dos últimos, dos miseráveis, dos desempregados, dos criados, dos falhados, de pobres até da lixeira social. Aqueles que, parece-me, vieram ao mundo para acompanhar outros ou talvez assistir na festa dos outros.
Vejo como o nosso mundo angolano caiu no vazio, onde confunde-se tudo. Tudo é confuso porque já se perdeu a visão tudo é funy and unclear. Sem uma boa visibilidade não se pode visualizar para alcançar a visão. Já não somos brutos mas andamos brutamente, pois perdeu-se a noção da lógica, perdeu-se a ética de tudo e o javardice invade a nossa cultura, que é a nossa mente. Todos estamos correndo as grandes erosões, sepulcro das nossas almas perdidas. Assim estamos vivendo em Angola num labirinto de perdidos. Contudo aceita-se viver alegremente na miséria só porque lá cheira o bem-estar na meia-culpa.
Hoje acredita-se em lendas e fábulas em que somos obrigatoriamente expostos pelas conversas baratas de amigos e vizinhos que contam-nos de grandes obras arquitecturais que se levantem em Luanda. Também não somos cegos para tudo negar ou teimosos para tudo refutar, porque em qualquer lado acredita-se nos esforços que o governo local tem desempenhado. Só que em toda essa maravilha, alguma coisa esta mesmo errada para não dizer podre, já que o nauseabundo não cessa de escapar. Sabe-se bem que a economia da maioria é comer bem, ter um bom lugar para dormir, conseguir enviar seu filho a escola, ter um salário que ajude-lhe aguentar o mês pondo refeição a mesa, visitar seus familiares em Malange mesmo que não se consegue visitar os de Kazenga. O povo não fala a linguagem de arranha-céus, das contas bancárias, de férias em Portugal, de fim da semana nas praias, nas cervejarias etc.
Alguma coisa vai mal e já cheira rato. As incessantes mudanças não são saudáveis e cheiram podre. Um país não é uma partida de xadrez, onde peões são movidos em volta entre si na mesma peça de tábua. Mesmo Karpov e Kasporov não ficaram jogando eternamente. De um jogo ao outro, são as mesmas peças que vão vagabundeando na dura tábua colorida com pequenos quadros numa divergência de cores. Não é um jogo de xadrez onde as figurinhas já ‘’comidas’’ voltarão facilmente a superfície da tábua já no jogo a seguir. Um homem tem consciência e não é manipulado tão facilmente que um cachorro. E pena e horrível quando um jogador apresenta sempre a mesma jogada de um jogo ao outro. Isto prova uma debilidade estratégica: falta de visão, falta de preparação, falta de maturidade, falta de conhecimento, má visibilidade, falta de interesse na aprendizagem e falta de gula no progresso.
De 1992 até hoje Angola estagnou na sua segunda República, que conheceu duas eleições, um só partido no poder, três governos e dezoito sub-governos. Os diferentes governos dirigidos por primeiros-ministros e vice-presidente podem se considerar agora por sub-governos devido as sucessivas mudanças operadas na peça de xadrez mudando os mesmos ministros de um posto para outros. Isto impede qualificar esta por uma terceira república. Limitei a minha contagem porque não quis considerar as pequenas mudanças de menos de quatro ministros rexonerados e renomeados. Angola está girando na rotunda das impossibilidades políticas. As mudanças já não trazem o desejado ou talvez o desejo do povo. Parece-me, quem controla as peças, está satisfeito como as jóias obedecem-lhe mesmo sem produzir um efeito. Aqui vê-se mesmo que a mão está demorando na panela, como diria meu falecido velho, é porque desamparou-se ao duro osso, responderia minha velha. Já não se sabe o que temos e o que tem-se procurado. Angola não tem falta de recursos humanos. O espaço territorial é grande e suficiente para todo o cidadão angolano como mão-de-obra, actor ou contribuinte. Este espaço ofertado aos estrangeiros não deve ser refutado aos autóctones, tendo direito a vida. E tempo de optar pelas soluções diferentes como a coabitação política, unificação governamental, coalizão política, a vizinhança política e vamos eliminar a politica da raposa, a politica da exclusão social, o pluralismo no totalitário porque já quase uma década que estamos no calabosso do circulatório político. Colocando somente um actor, que antes de ontem era ministro da defesa, ontem do interior, hoje na policia e amanha na segurança, não é besteiro? Angola já inventa sistemas políticos de governação? é mesmo maravilhoso!
Parece-me que a cegueira está dominando-me, por isso, tenho verificado (talvez erradamente) que em Angola exonera-se definitivamente os que melhor trabalho prestem a nação para nunca mais reaparecer em nenhum palco ministerial. Portanto aqueles maus governantes/gerentes conhecidos pelo povo, e que publicamente se gabem das suas fortunas de origem inexplicáveis continuem firmemente na trincheira da revolução angolana; desaparecem um dia para reaparecer noutra semana ainda com mais power, influence and stability.
A tolerância zero não deve limitar-se só em finanças mas deve ser politicamente generalizada. Muitos habituais já tiveram mais de três postos ministeriais e somaram falhas, já não deveriam constar nas listas mesmo fossem maquisaristas, revolucionários, heróis até co-fundadores mas Angola continua provando que é uma República dum planeta não localizado e do século desconhecido.
Até áqui parece-me que a marcha (giratória) de Angola não tem destino embora que a acompanhante música é boa. As ocorrências dos tempos bem justificam esta experiencia, uma vez há tempos de cantar para uns que são os mesmos e tempos de chorar para outros que também são os mesmos.
JDNsimba©2010publ/033