Não sou um cientista para debater um ponto de visto bem arquitectado há séculos pelos famosos desta arte que o mundo aceitou, acreditou e que ao mesmo tempo foi-lhe incutido. Não sou fomentador de controversas para desafiar cegamente aquilo que os altos estudos tem aprovado. Que fazer? Vivemos numa democracia onde cada tem direito a palavra e espaço de declarar o que acha, mesmo se for errado aceita-se as divergências de ideias. Sendo homem com certas capacidades, revejo-me na posição de observar coisas que me rodeiam, mesmo sem querer pois não vivo numa gaiola isolada de tudo e em tudo. Ainda mais cresci no seio duma sociedade, onde os velhos mesmo limitados estudaram certos objectos, animais e grupos de homens usando métodos empíricos para compreender algo. Assim no meu Béu estudou-se por curiosidade as actividades de macacos.
Curiosamente entendo a minha escolha deste estudo mudo, que tanto mal como vá que não vai, foi transmitido duma geração a outra até hoje em dia. Quem talvez nunca teve oportunidade de descobrir meu povo lá no fundo da região norte de Angola saiba que no Béu dedica-se muito a agricultura, raramente a pesca que é uma actividade mais praticada pelas donas e a caça que se praticava semanalmente em colectividade ou individualmente dia por dia. Também gostaria de partilhar com a nossa juventude aquilo que por falta em Angola de um jardim zoológico, Quissama não oferece.
Na caça colectiva que chama-se makonde temos tido velhos com mais experiencia: que dominam a geografia cadastral das matas, com capacidade de ler os sinais do clima, o comportamento de animais mas também que tenham dominância sobre cães e sabedoria sobre a caça. Esses velhos são chamados de nganga mbwa que significaria deuses de cães ou sábios de cães mas propriamente mestres de cães. Como é sempre imperativo para qualquer caçador de compreender os hábitos de animais porque a caça é um jogo de ‘’esconder-achar’’ simplesmente com arma na mão.
O macaco sendo primata no mesmo grupo com o homem, não só apresenta muitas similaridades com este mas é também sujeito de debates incessantes e interessantes. Sou um daqueles que não consideram o homem de animal e não tão pouco que é produto duma evolução do macaco, embora que tenham células e funções iguais como mamíferos. O que encoraja-me debater este ponto de visto é porque vejamos como o dicionário explique: Primatas ou primates (subst. Masc. Plu) família de mamíferos que compreende o homem e os animais que mais semelhança tem com ele. Baseando-se nesta definição posso sugerir que os macacos não são os únicos animais que compreendem o homem portanto todos animais não são primatas. Ultimamente Paul, o polvo alemão adoptado na Inglaterra fez melhor que o homem/ciência na escolha das equipas vencedores nos jogos de futebol mundial na África do Sul. Felizmente hoje a ciência não argumenta-lo, porque os actuais macacos já não evolvem para homens. Agora talvez já se acredite que o polvo é mais inteligente que o homem-macaco, só porque é capaz de ganhar uma lotaria.
Recentemente um cão duma unidade policial na Inglaterra foi excluído dos serviços policiais porque foi provado que este operava com intenções raciais. Se a ciência pode provar que animais têm tendências ou inclinações raciais, porque já foi-se também provado a mesma em relação a um cavalo da polícia. Nestes, eu tenho perguntando-me ultimamente se não é possível que um dia haja também um cão ou um macaco tribalista em Angola. Esta pergunta é a inspiração da minha escolha aos macacos do Béu ou mesmo de Angola para que amanha alguém considere-me de tribalista/nacionalista.
Os macacos têm grupos laborais como grupos familiares. Macacos vivem em determinadas zonas e dividem-se territórios florestais. Existem vários ou diferentes tipos de primatas como gorilas, chimpanzés, orangutas, babuínos etc assim como há africanos, europeus, angolanos, brasileiros, bakongo, nganguelas, brancos, mulatos etc. Encontre-se macacos no Béu como no Cuilo ou Sakadika mas também em diferentes zonas de Angola como em Cabinda, Lundas, Moxico etc. e estes podem se distinguir conforme as zonas residências. Entendo que é muito mais fácil para um chimpanzé adoptar um outro chimpanzé de que adoptar um babuíno mas também não entendo como o homem nega autenticamente coabitar com seu conterrâneo, seu adversário político.
O comportamento do macaco atrai a curiosidade do homem visto a sua aproximação biológica ao homem mas também a sua adaptação em trabalho e organização. O macaco tem uma família própria que não consegue manter definitivamente como um homem normal porque suas relações familiares podem entre si mudar ou cessar. Assim a filha pode um dia ser mulher; o que aos homens seria incesto. O macaco não conhece incesto, poligamia, adultério ou seja casamento. Melhor que o homem, ainda não foi detectado aos macacos um comportamento homossexual ou de pedofilia.
Na comunidade de macacos há sempre um velho na liderança, tendo sabedoria e força de batalhar. Este tem a responsabilidade de proteger a família e a comunidade. Ele investigue os terrenos para encontrar novas residências onde abundam produtos alimentícios. Em casos de ataques ele organiza o grupo e procure maneiras para defender a comunidade. O macaco velho também tem a responsabilidade de encorajar o processo de procriação, por isso em muitos casos este velho aglomera dentro do grupo mais mulheres que outros, jogando o papel semelhante a um ditador. O experiente velho vai com o tempo perdendo suas capacidades tanto físicas como raciocinais. Uma vez neste estado, os imperativos da comunidade exigem uma mudança natural na direcção. Os nossos velhos aconselharam-nos sempre pondo acento no comportamento misterioso de um envelhecido macaco.
Um macaco velho apresenta sempre um comportamento cheio de intrigues. Primeiro, ele sente-se um pouco ultrapassado e começa a desenvolver dentro de si um procedimento invejoso. Ele olha sempre a rapaziada ou a juventude com olhos de desconfiança. Ele mete sempre em prática uma estratégia comunista da guerra fria, vendo aos jovens como possíveis sucessores no comando do governo da comunidade. Ele fica animado de ira contra estes jovens porque vê neles sucessores na hierarquia familiar, isto implica que ele será posto fora do jogo, perdendo assim toda influência perante as belas mulheres. Este comportamento vai causando transtornos na sua consciência que vai mudando suas acções. A sua mudança vai deixar escapar cargas de desespero ou de instabilidade, por isso vai preferindo intimidações contra os mais fracos.
Um macaco velho no processo de ultrapassagem inventa asneiras, armadilha outros com objectivo de ridiculizar-lhes ou de minimizar-lhes. Como o macaco é um ser irracional vai empregar estratégias obscuras, fazendo campanhas destrutivas contra os machos do grupo. Ele acusa constantemente e falsamente os outros mesmo em assuntos desnecessários. Como a velhice impede-lhe uma movimentação ajustada, então vai repousando com cansaço e vai ganhando peso. Com uma locomoção lenta, as suas técnicas de balançar-se entre diferentes árvores sofrem uma queda em qualidades. Uma vez nesta posição, perde também a capacidade de alimentar os mais pequenos com as melhores frutas da área. Geralmente para se defender continuamente contra este montante juventude, já que não será possível fazê-lo fisicamente vai promulgar decretos para limitar a capacidade observadora e analista desta. Quer dizer, aplica uma técnica para cegar o resto de machos e jovens, fofocando contra este ou aquele. Ele vai contando até aos jovens que esta mulher é sexualmente humedecida só para diminuir a curiosidade destes. Este vai acusando até de forma mais obtusa que este ou tal árvore não produz bons frutos, só para impedir os jovens recolher as frutas da árvore que desconseguiu trepar, e qual coloque a nu a sua incapacidade física.
Um velho macaco já não se lembra do tempo porque vive numa prolongada fantasia onde as agulhas do relógio estão sem alma. Ele projecta sempre o atrazmente no futuramente esquecendo a única verdade: que o homem nasce, cresce, produz e morre. Ele se auto-proclama Sese Seko (homem eternal) negando mesmo a cor (branca) dos seus cabelos dizendo que é fashion. Ele desafia a lógica do fatalismo social de que Mobutu já não vive, que Bongo já morreu, que a riqueza de Marcos ficou nos bancos suíços sem que a família recuperasse migas. Muitas vezes é sempre um pequeno incógnito (de ontem) que vai se concentrar uns dias numa mata da vizinhança que voltará decisivo e por fim ao reinado do velho teimoso macacão. O macaco velho nunca abandona seu posto mesmo cego, fique até que alguém tire-lhe o poder a força. Ele raramente foge mas prefere ser morto numa confrontação física.
O que mais fascina-me nestas lições ou comportamento de macacos velhos, é como um irracional torna-se cego pelo sabor do poder e como pela teimosia do poder aceita de morrer quando tem possibilidade de retirar-se livremente num terreno para viver em paz os últimos dias da vida. O que me cativa é a nova capacidade irracional que se empregue para diabolizar até alheios sem portanto realizar está-se ridiculizando perante criançolas e mulheres.
‘’Quando o velho macaco desconsegue recolher uma fruta, fofoca aos demais que as frutas desta arvore são amargas’’ diz um provérbio bantu.
Nkituavanga II
Setembro 2010/002