Eu tinha uma visão diferente, como do todo angolano interessado talvez de poder um dia visitar esta bela nação e experimentar certa amargura. A minha visão era mais alimentada pela minha experiencia do passado quando era ainda estudante e trabalhador no Huambo. A minha visão não exprimia algo negativa ou pessimista mas ela traduzia uma realidade que muitos angolanos tanto estrangeiros conheceram. Num passado próximo, visitar Angola era um sonho para quem persegue o progresso; porque discursa-se tanto daquela economia emergente, mas não deixe de ser fonte de frustração para aqueles que gostam da justiça.
A prática de pagar uma gasosa no nosso Aeroporto era habitual e foi-se normalizada com o decorrer do tempo, porque era patern do sistema. Muitas vezes as tais gasosas eram pagas repetidamente sem que importasse os viajantes. Como é de costume; tudo de bom como de mal acaba-se na terra por ser nacionalizado. O que mais aterrorizava a consciência de viajantes foi a desordem que naquele sítio reinava. Não havia disciplina na prestação de serviços caóticos. A lei inoperacional não ajudava para melhorar todo género de tarefa e proporcionar um progresso. A disseminada corrupção não embelezava a linda imagem de um país de próspero futuro. No Aeroporto tudo era possível; feito possível pelos trabalhadores e normalizado pelos viajantes. Ai se roubava os bens ou propriedades de clientes, incluindo assaltantes fora do recinto. Por ai, aqueles que pouco ganhavam pediam esmolas para encher os bolsos, e aqueles que sustentavam concubinas e quatorzinhas ou que tinham projectos para acabar num tempo recorde solicitavam gasosas. Ali era fulcro que regenerava complicações para viajantes. Do passaporte aos cartões de vacinações, de mercadoria as simples bagagens e presentes, tudo ocorria a base de intrigues e falsas multas. Desviava-se passaportes e cartões de embarque. Os trabalhadores eram profissionais em subtrair a bagagem até dinheiro dos passantes. Só a excessiva presença de homens fardados inspirava medo, nojo e repulsão. As constantes descidas e subidas, idas e voltas destes ou daqueles eram uma pressão psicológica, uma forma de intimidação aos passageiros. Enfim mesmo o simples ar de respirar era kwata-kwata.
Sendo o ponto da entrada para quem chega do exterior e saída para quem espere visitar diversificadas províncias, o Aeroporto era espelho duma civilização de insegurança, de desespero, de confusão. Ele reflectia o verdadeiro cambalacho que se desenvolvia entre os deputados na Assembleia Nacional, a corrupção que se cultivava em vários ministérios, a concorrência política em que a elite se alimentava. Era um Aeroporto que não era nada menos uma entrada para o inferno. Este mesmo Aeroporto é hoje algo especial. Algo especial porque simboliza uma identidade nacional digna de filhos de Angola. No Aeroporto, pareceu-me que é hoje a fonte duma política que inspira paz e sucesso. Houve e há grandes mudanças tanto na presença das forças de trabalho como dos meios da produção. Posso com audácia declarar que nele já não se verifica a anarquia do comunismo e porquidão. No Aeroporto sente-se seguro; tanto os trabalhadores como viajantes. Os serviços prestados são óptimos de confiança. Lá os passageiros são vestidos duma camada de segurança, esperança e confiança. Lá parece que caiu a verdadeira bomba da Tolerância Zero que tem falhado no Palácio, no vulgo Parlamento e no seio de todas estruturas ministeriais. Não vou por aqui declarar que fechou-se uma entrada de droga do Brasil, ou de mercadorias humanas que lá ilegalmente transitam para ocupar armazéns no Roque Santeiro, gerir lojas no Sapu, Rocha P. ou no Hoji mas aspire algo especial que na outrora desconhecia-se. Sabe-se que ainda por lá transite vultos de dinheiro usurpado pela elite para engordar contas bancárias na Suíça, Brasil, Portugal, França, Estados Unidos etc sustentar terceiras mulheres e filhos em Londres e Manchester mas que poderão acidentalmente alimentar o terrorismo. Os serviços da imigração atendem agora com alta disciplina e dedicação. Os antigos gatunos que lá arrombavam malas de passageiros sumiram subitamente. Mesmo aqueles assaltantes que nos seguiam do Aeroporto as casas foram colhidos. O nosso Aeroporto oferece hoje um serviço apreciável sem protocolos inúteis, frutos duma burocracia comunista e duma administração falhada.
O que lá se conseguiu instalar ou impor é fruto de um trabalho bem estudado e aplicado com cuidados mas também prova a falta da vontade de dirigentes de alcançar o mesmo em todas as repartições e instituições públicas começando pela Cidade Alta. Neste, já não se vê sinais da candonga, da corrupção, das gasosas, das complicações burocráticas, da linguagem abusiva e mesmo da presença amedrontadora. Lá reina-se o clima de 4 de Fevereiro. Congratulations a quem merece estes elogios!
Nkituavanga II
Setembro 2010/001