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sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

O CACHORRO DO VELHO


Ainda não terminei a minha frase prognóstica sobre os acontecimentos que se desenvolve neste ano na casa do meu vizinho, quando de repente as concretizações vão dando aparências numa velocidade surpreendente que exigem uma reflexão e analises daquilo que o tempo reserva para mim ou na nossa casa. A verdade é que não sou humano mas sim um simples canino que foi comprado por simples razões e para simples objectivos. O tumulto que vejo, assisto e vivo hoje não é em consonância aquilo que foi preconizado pelos donos que foram forçados pelos ventos das forças misteriosas que carreguem tudo no seu perfilo negando qualquer hipótese aos patrões de confrontá-los ou mesmo de resistir contra suas pressões.

Na realidade sou um simples cachorro que foi ontem adquirido, quando afligidas pelas tautologias que as ocorrências sociais dos dia-a-dia as filhas menores solicitaram ao velho, meu dono, que é o pai chefe da família e dono da casa onde vivo, respondendo assim ao pedido da moçada. Fui então nesta altura comprado para servir de brinquedo as filhas do meu dono. Foi autenticamente neste contexto que fui instalado nesta família como objecto, de ser talvez eternamente uma propriedade privada desta família. Assim sou hoje um povo sem valor, excepto nas épocas das eleições!

Por ser um instrumento de pouco valor mas bom acompanhante nos momentos infelizes da família, vivo umas realidades que o mundo fora não percebe. Este mundo pode adivinhar e sonhar a minha fortuna mas acredita nela duma forma duvidosa. Duvidosamente acredita nos tratos que tenho sido alvo porque a aparência do meu dono, do meu mestre não se conota com nenhuma virilidade, agressividade pois é de natureza meiga. Pouco importa o que outros cachorros vivem nas suas respectivas casas. Não diria suas casas uma vez tem estatutos de propriedades e não proprietários mas o lapso de caridade que me é ofertada pela rapaziada nos poucos momentos da minha felicidade obriga considerar esta de minha casa. Na realidade sou…eu dizia que dentro das quatro paredes no quintal do meu dono sou muitas vezes capturado. Digo capturado porque vivo momentos sem liberdade, limitado de todos os meus direitos pois fico acorrentado. Esses foram e são sempre os momentos da angústia na minha inútil vida. Nos tais momentos, fazem de mim um escravo não destinado ao comércio triangular mas dão-me as mesmas características; amarado com uma corrente do pescoço a grande betão que serve de suporte a casota onde se armazena outros equipamentos. Dali fico exposto aos braços de calor, frio, chuva que também devoram a minha liberdade. Finalmente sou agradecido com uma chicotada quando neste dia ou nesta hora tento ladrar como sinal de reclamação e assim dizem que sou um zangado. Portanto sou hoje um povo sem liberdade, excepto para eleger um candidatado já apontado que me é indicado.

Vejo os homens pois vivo com os meus patrões. Eles levam uma vida diferente enquanto a minha foi-me imposta. Alguém entendeu e decidiu que tenho assim de viver satisfazendo-lhe nas suas necessidades e isso pode alterar conforma a evolução e reacção das suas hormonas teleguiadas pelos raios solares que aquecem a manteiga dos seu cérebro. Não temos comunidade nem organização de cachorros por isso não temos onde e como reclamar. Mesmo se tiver espaço e tempo, somos naturalmente afónicos. Quem iria prestar atenção a um ser irracional: assim somos considerados e chamados pelos homens. Sou um cachorro que conhece curtos momentos de felicidade, que antecipa sempre a minha miséria. Embora que o meu velho, pretendia dizer o meu dono é rico, eu vivo com toda a pobreza com expoentes elevadas. Não tento me comparar ao homem mas penso ter o direito a vida. Não só foi-me proibido utilizar loiças (pratos e garfos) durante as pobres refeições. Este meu mestre alimenta-me com ossos, que deitam em baixo da mesa; nos dias positivos, isto é quando tem bom senso, senão tenho desenrascado sozinho na lixeira no pátio. Sou muitas vezes ignorado. Passo horas e dias sem comida e riem-se de mim até apelam-me por esquelético. Sou na realidade a consequência de maltrato. Assim sou hoje um povo que se alimenta de migalhas e do odor de boas comidas que invadem minhas narinas e que os deputados por mim eleitos se entulhem.

Eu sou o cachorro da casa ou da família cujo mestre comprou para também guardar a casa. Passo noites fora para proteger e defender as propriedades. O meu ladrar de dia torna-se pelo homem como pecado mas as noites sou muitas vezes convidado a ladrar contra intrusos invisíveis. Tenho que ladrar contra gatos e ratos, e mesmo ladrar contra ruídos, sopros e murmures mas os meus verdadeiros inimigos são bandidos armados e comanditados pelas instituições estatais. Há vezes sou chamado a ladrar contra a minha própria sombra; ladrar em tempos de medo e de frustração. Ladrar é a minha defesa mas também a minha comunicação e consolacao. Tenho que ladrar para proteger a paz daqueles falsos amigos que maltratem-me. Assim sou hoje um povo condenado a fantochada vida, convidado a lamber botas dos homens com e influencia de poder.

Por destino qualquer fui sempre o cachorro do meu mestre, brinquedo das filhas do mestre. Hoje há tempestade que rasa as esperanças de uns mas traz mudanças aos outros. Já não sou kambua de ontem pois ganhei certa massa e volume, sou robusto e consideram-me de cão. Por azaro da natureza ganhei um certo respeito, que o mestre e as filhas não gostam pois temem-se ocasionalmente de mim. Com a minha teimosia adquiri certa liberdade de circular, de negociar certas condições. Hoje tenho a brecha de decidir sobre quem tem o direito de entrar no quintal do meu mestre ou não. Tenho forças e capacidades de se defender contra qualquer eventualidade nas ruas da cidade do meu mestre e não preciso hipócrita protecção do homem. Hoje já não é fácil acorrentar-me como habitualmente. Já não preciso muito da alimentação domiciliar. Assim sou um povo que os meus dirigentes já não gostam mas aqui já não sou o cachorro. Agora os meus patrões odeiam-me só porque engrandeci e sou incontrolável, pois já não manipulem a vontade. Então agora odeiam-me e pensam se libertar de mim a todo o custo. Eles tem um plano maquiavélico, que ainda guardam como segredo mas mesmo sendo irracional já o decifrei.

O meu mestre, o meu dono e velho da casa em colaboração as filhas pensam vender-me aos comerciantes mas enganaram-se pois já ninguém precisa de comprar um grande cão; prefere-se cachorro. A outra alternativa planejada é de botar-me fora da casa mas numa aldeia/terra longínqua que não garante possibilidades de regresso ao domicílio. Eles não vão eliminar a possibilidade de matar-me e deitar os meus restos na lixeira uma vez não há controlo das organizações de defesa contra a crueldade animal.

A minha ferocidade salve-me e torna-se impossível ao velho controlar-me, as crianças brincar comigo como antes, dali consideram-me de cão raivoso e desamparem-se de mim, mas como sou cão na época da democracia e democrático posso me libertar deste trauma africana. Assim como povo vejo o que se passa no continente e no mundo e vou ganhando coragem. Não preciso de depender aos outros, já que posso negociar os meus direitos e reclamar o que me foi tanto roubado, proibido e libertar-se daquilo que foi-me imposto. Já não sou afónico mesmo sem assistência da comunidade internacional, muitas vezes corrompida pelas governações locais. Tenho o direito de negar o estatuto que me foi imposto perante as indiferenças desta comunidade internacional. Sou o futuro da nação de do continente. Eu sou, inexplicadamente pelas vontades alheias, um bom rico africano pobre.

Ora viver bem não implica possuir uma consciência branca, e praticamente já foi verificada que foi a consciência branca que colocou a África a miséria; quando já existia uma consciência africanamente purificada.


Nkituavanga II