A vida é um jogo, é uma quebra-cabeças…
assim se elucidava no episódico brasileiro, o Bem Amado. A vida é curta dizia
um poeta infamado. Enfim a vida nos oferece muitas lógicas que se pode definir
em varias maneiras dependendo do ângulo da observação pelo qual estamos
posicionados. Na minha realidade, tanto de muitos a vida se enrola numa
cronometragem da história, geografia e cultura. Pois ela é a narração do percurso
ou perfilo de determinados eventos em certo tempo, num espaço qualquer conforme
autênticos hábitos ou costumes.
Tanto nos momentos felizes
como de maus souvenirs, a vida não falta de brindar-nos com ilusões. Essas
ilusões esporádicas acompanhem talvez esses dois pólos citados da vida, mas
elas também advezes surgem isoladamente. As grandes aventuras, as revoluções,
muitas manifestações e outros dinamismos de grandes envergaduras e impactos arrastam
consigo verdadeiras ilusões. A experiencia atesta que só uma minoria aproveita
e beneficie positivamente os efeitos destas ilusões deixando uma grande maioria
reflectindo amargamente sem fim o que ela recolheu nesta. Neste contexto, os
cães caçadores podem melhor explicar; pois são sempre agradecidos com ossos por
enquanto seus donos se engordurem com melhores pedaços de carne.
Diria eu que em qualquer
movimento existe sempre um visionário. Portanto a visão fica sempre o foco ou
eixo da concentração da organização/movimento. Em muitos casos, sobre tudo nas
organizações com pouca disciplina, mal estruturadas ou desorganizadas, onde a
visão é uma propriedade privada que o visionário, dono ou líder transporte nas
suas calcinhas, ou nos seus bolsos, a visão perde a sua essência logo que haja
mudança de ambições. Neste tipo de organizações, a visão morre uma vez que o
visionário, líder ou dono cessa de viver. E caso for substituído, este, combate
contra a visão que tinha anteriormente defendido. Este é a moda comum em
África!
A ilusão da visão é que em
qualquer revolução ou movimento os participantes, membros, colaboradores contribuem
para só elevar a consagração um individuo e os restantes/acompanhantes vão
beneficiando pelo reconhecimento deste empossado, que provavelmente omitirá uma
maioria. Eis a razão pela qual o sucesso da visão depende do dinamismo do
visionário mas do respeito corporativo ao cumprimento da missão. Não deve haver
duas visões e não deve haver muitos visionários numa revolução. Por isso na
política surgem conspiradores, anti/contra-revolucionários, fraccionistas,
rebeldes, fantoches etc.
Da colónia a um País
Soberano, desde 1975 Angola foi governada pelo MPLA que tinha como visionário,
o seu Presidente Agostinho Neto. Este movimento comunista planificou
estrategicamente seus projectos, objectivos de acordo a visão que se
parafraseou na bandeira da nação. Entende-se que era uma governação
totalitária, dominada pelo partido/estado onde a voz do povo era
insignificante. O angolano não tinha direito a decisão nem a escolha. O
movimento comunista soube aproveitar a debilidade educacional da população par
inculcar-lhe o que o marxismo-leninismo angolano preconizava. Usou-se da
bandeira nacional para transmitir uma mensagem que ficaria eternamente na
consciência angolana. O MPLA nunca pensou (tanto o antigo como o novo MPLA) e
ainda não está preparado de governar Angola partilhando com outros partidos.
Como a leitura dos factos e factores históricos não convence-me ainda que o
MPLA do Agostinho Neto e do Eduardo dos Santos é o mesmo, continuo acreditar
que existe duas distintas histórias e dois movimentos do MPLA (para não falar
doutras fracções). Ainda mais que a visão do Pr. Neto não é mesma com a do Pr. Eduardo
dos Santos. Os objectivos também são diferentes. A diferença não é só no tempo
mas ate no espaço, as ocorrências, as praticas, as realidades, o estilo da governação,
e eu não acreditaria que a governação de JES é a continuidade na do AN; seria
absurdo. Pouco importa a opinião dos políticos como de jornalistas mas
historiadores serão em pleno acordo comigo.
Ao colocar no seio da
bandeira nacional, que é hipocritamente a mesma bandeira (dissipada ) do
Partido do Trabalho, a catana e a roda dentada o movimento calculista de Neto
pensou gravar a angolanidade uma mensagem memorável. Contemplemos:
Primeiro, queria incentivar
a bravura do povo angolano que soube heroicamente defender seus direitos.
Infelizmente usou-se do 4 de Fevereiro, que é uma data simbólica ao nosso povo.
Só que há muitos partidos que hoje reivindiquem o direito desta data, que
foi-nos incutido a pertencia ao MPLA. A clarificação histórica sobre esta tão
discutida data ainda não foi decidida, uma vez historiadores angolanos não
possuem ainda o direito científico de trabalhar sem inclinações. Não se faz
verdadeiras palestras, debates e conferências para a esclarecer. E pena que
mesmo aos estudantes universitários não se profetisa a verdade. A catana
representa na nossa bandeira o espírito do 4 de Fevereiro; a fome da
libertação. Libertar-se contra o jugo colonial, contra a manipulação colonial e
reclamar a sua identidade angolana. Dá-se ao angolano um encorajamento no
espírito de combate; ser combativo para defender seus direitos. Direitos esses
que o mesmo Neto viria recusar-nos. Mas a catana representou também a força da
produção artesanal: - uma chamada a produção.
A roda dentada é outra forma
de motivar o povo ao trabalho ou produção. O MPLA trouxe uma mensagem dizendo
que o angolano é um trabalhador da linha da frente, que por meio da produção
pode transformar esta nação. Mas optou diferenciar o que se pode alcançar entre
uma produção artesanal (simbolizada pela catana) e a produção industrial
(simbolizada pela roda dentada). A mensagem foi simples: usa-se a catana onde
não inicialmente haver possibilidades e condições (mundo rural) enquanto nas
grandes aglomerações haverá indústrias mecanizadas. Isto tudo significaria que
pode-se transformar Angola usando catanas ou maquinas onde e como puder.
A visão de Neto sobre a
transformação de Angola era então realista? Ilusão ou simples sonhos? Nos
últimos dias da sua vida Neto viria entender que a teoria da sua mensagem não
tinha uma pratica realista. Não se aplicava o que se proclamava, quer dizer as
ambições não correspondiam com a profecia do MPLA/PT. Neto começou a ver o
outro lado do ângulo; a faixa mais escura da óptica.
Quanto na visão do novo
MPLA ou simplesmente no MPLA do Presidente José Eduardo dos Santos a catana e a
roda dentada da bandeira de Angola não tem a mesma mensagem de ontem e não
representam as mesmas coisas. O povo angolano conheceu uma longa guerra entre
irmãos cujo dividendo da factura foi mesmo incalculável. O angolano não se fez mortelado não só fisicamente mas tanto
emocionalmente como moralmente. Ate hoje as cicatrizes ainda tem causadas dores
e as lembranças são vivas. Contudo o angolano continua revoltado. Esse revoltado
obteve graças ao receber do MPLA armas de fogo que ainda conserva armazenadas
nas casas. A sexta-feira sagrante é uma prova, que com todas as eventualidades
pode se repetir sem aviso nenhum.
Eu não gostaria de debruçar
desta visão do novo MPLA mas a pratica tem dado-nos uma preciosa lição. Na situação
actual substitui-se a catana pelas armas (seria copiar a bandeira Moçambicana)
para que um futuro 4 de Fevereiro seja mais cruel, violento e agressivo que o
passado? Incentiva-se aos nossos irmãos de combater com armas na mão sem
portanto dar-lhes uma preparação moral ou politica, seja psicológica para não
causar danos injustificados. Pelo menos que saibam que já não temos colonos; que
não estamos a combater contra o colono. Ate seria inútil uma vez temos forças
armadas e mercenários que temos enviados nas terras longínquas. A catana
continua a encorajar o angolano e incentivar-lhe a barbaria. A catana dita a
consciência angolana a derramar sangue dos outros. Pergunto eu se esses outros
de ontem ainda não são angolanos? Não se incentiva ninguém a produção onde se
crie voluntariamente desempregados!
Muitas coisas mudaram
porque a historia desenvolveu mas a mesma mensagem da bandeira angolana
continua flagelar a consciência do angolano. Alguém queira que se repetisse o 4
de Fevereiro. Já não se pode nada dissimilar! A catana serve para derramar
sangue, e não da produção. Quem apelamos a produzir? Vejamos ainda a roda
dentada
A roda dentada foi uma
forma de implementar algo que activa a produção e o novo MPLA veio energicamente
com a política da exclusão social. Qualquer demográfico angolano lhe diria hoje
que em Angola vivem mais angolanos desempregados que estrangeiros. Há
províncias em Angola onde o trabalho continua um sonho inalcançável. O novo
MPLA tem mais preferência aos estrangeiros condenando a sua população a
miséria. A roda dentada é hoje uma chamada de atenção ao desemprego. Não se
justifica como pode haver estrangeiros motoristas, guardas, empregados de
limpeza etc enquanto o cidadão não encontre emprego. A minha opinião não tem
nada com xenofobia mas descrevo uma realidade que se vive na terra. Respeito a
opinião de quem pensar que sou frustrado. Portanto só precisamos de cooperantes
onde não podemos!!!
Ate faria a comedia de
deduzir um dia que a presença da estrela na bandeira de Angola representa a
gasosa que se paga em todos sectores em qualquer business.
Vamos construir uma Angola
nova, onde não haverá injustiças. Vamos mudar por favor esta bandeira onde continuamente
derrama o sangue do angolano condenado ao desemprego. Vamos construir uma nação
onde não haverá lugar a catanada/massacres e desemprego.
Nkituavanga II