A candonga existe no nosso meio. Ela ainda vive e
bem porque está sendo alimentado não só por indivíduos mas também pelas instituições,
não só privada mas sobretudo estatais. A candonga é bem praticada mas num
estilo muito mais sofisticado; fora da moda e do habitual. A candonga
desenvolveu-se, metamorfoseou-se, ela tomou e se vestiu de outras cores e
luzes. Ela encontrou outros praticantes e transferiu-se da classe baixa a
classe mais articulada.
A candonga é um fenómeno sociocultural, socioeconómico
que nasceu de forma instintiva na consciência do povo angolano uma vez a
procura e a oferta ficaram longamente desequilibradas. A candonga é o processo
pelo qual o povo cria meios de sustento aplicando-se numas actividades
comerciais que garantem lucros volumosos. Ela é um processo que não obedece as
regras estabelecidas pela autoridade, que também não aprova esta pratica. Ela é
a forma como o angolano estimulou a sua capacidade entrepreneurial para criar
uma plataforma de troca de produtos, ou de venda para sustentar a sua família.
A candonga era uma prática ilegal, combatida com toda energia pelo estado
marxista angolano. A candonga estimulou também outras práticas no seio da
sociedade tais como o desvio de fundos e roubo de produtos nas empresas do
estado. Nos tempos, muitos candongueiros foram presos. Muitos angolanos
praticantes desta foram também mortos nas prisões, outros atrevidos morreram
nas minas em varias fronteiras angolanas. Outros ficaram até hoje desaparecidos
que nem o governo tem explanação, embora que estes estavam sob custódio do
governo em varias prisões, quartéis e esquadras. Há quem perdeu seus bens em
detrimento a uns oficiais que hoje poluem os palcos de ricos angolanos.
Muitos entre aqueles que ontem praticaram este
processo tomaram outros rumos das actividades laborais. A candonga hoje tem
outros praticantes, aqueles que ontem souberam energicamente e brutalmente combater
os praticantes. A candonga é já uma modalidade que facilmente enriquece os
praticantes. Eles fizeram com que esta actividade seja oficialmente praticada
pelos meigos do clube da alta sociedade, pela elite e tribos valorizadas da
nação. Ela ganhou uma conotação positiva e já não cheira kimbombo.
A candonga é hoje praticada nos grandes gabinetes.
Ela foi oficializada pela corrupção que perfume a nação. Seus melhores adeptos
são os ‘’coluneiros’’ em gravata, que viajem em primeira classe e muitas vezes
discutem os problemas angolanos. Outros foram projectados na lista dos heróis
de Angola; que não sabemos com que critérios. Esses ajudaram a candonga
cobrir-se com a bandeira da nação. A candonga angolana anda também de casaco,
talvez tem patentes e possivelmente vive nos palácios! Esta mudança fez com que
o angolano já não fala deste fenómeno. Ele passou do negativo ao positivo e foi
normalizado até elogiado na consciência angolana.
Espero que alguém tenha piedade da nossa economia e
entenda que este processo não é normal mesmo que as actuais circunstâncias forcem-nos
a recebe-la como se fosse. Este assunto deve ser abordado diferentemente e
botado fora da nossa sociedade. Como dizia um antigo Comissário Provincial de
Luanda ‘’quando é praticada por uma kitandeira fala-se alto ate na mídia mas
quando o autor for autoridade, ninguém fala’’ Existe alguém nas fileiras
disponível para provar-nos como a candonga é hoje boa e criar dividendo nas
caixas do governo? O que hoje faz dela aceitável? Quando foi ela exonerada e posteriormente
empossada? por quém e em que decreto? A candonga não é saudável, é um
parasitário sustentado pela improdutividade e protegida pela corrupção e
injustiça.
O bem mal adquirido, não…
Nkituavanga II