O que realmente se passa em Angola é mesmo fotocópia daquilo que se passa em quase toda a África onde reina o tribalismo, amiguismo e cambalacho de alto nível, onde a liderança é um atributo vitalício para um determinado círculo fechado de famílias com o mesmo denominador comum. Famílias estas que têm a visão de devorar os mais fracos, alimentando-se parasitariamente com o suor da maioria esmagado com o sol, que consume suas energias nas ruas, nos postos de serviços e nas suas empobrecidas residências.
Observando o mapa económico de Angola pergunta-se a sua consciência; se na realidade angolana Deus é mesmo pobre? Se Deus não for pobre então será Angola pobre? E finalmente se Angola não é pobre, diria-se que o governo é pobre! Relaciono estas perguntas ao recurso humano porque sou daqueles que acreditem que o angolano foi por Deus criado e Angola recebeu Deste toda riqueza tanto humana como mineral. Falando da riqueza angolana eu não gostaria de referir-me naquilo que é inexplorado ou que não foi ainda descoberto. Fala-se simplesmente daquilo que esta nação já produz: produto e serviço mas também da capacidade financeira que se transacta legalmente entre angolanos e o resto do mundo. Sem ainda contar os 60% de tudo que evaporem na ilegalidade: roubo, nacionalização privada, privatização familiar, distribuição ilegalmente legalizada, candonga estatal.
Sim, sabe-se que em Angola ainda vive uma população oficialmente forçada ao desemprego. Esta população sem recurso encontre refúgio no entrepreneurship em qualquer mercado que garante o pão ‘’em cima da mesa’’. Estas iniciativas não são encorajadas, uma vez estão estabelecidos nas normas ilegais ou contrarias as recomendações governamentais. Paradoxalmente os efectivos do próprio governo não obedecem as regras que gerem a lei económica, jogando ‘’o duro’’ e até desprezando o seu humilde povo.
Teatro de recrutamento vicioso
Entende-se que estaticamente a repartição de quadros no espaço territorial não é suficiente, por consequência não se deposite ainda confiança ao quadro angolano formado tanto no país como no exterior. Talvez diria que o quadro nacional não tem brechas para colmatar oficialmente a vaga desejada uma vez não tem elos da conexão ao executivo. Este desleixo ao quadro nacional reflecte uma imagem que impede outros quadros de voltar as terras. Por enquanto vê-se que em mais de 30 anos Angola continua usando o mesmo método empírico de recrutamento sem que haja inovação.
O sistema de recrutamento do pessoal tecnocrático vai dando prioridade aos aspectos (i)morais do que tecnocientífico. Esses aspectos morais também não se baseiam no positivismo uma vez assenta-se na cunha, amiguismo/corrupção. Estas anomalias já foram atribuídas lugares dentro do positivismo e fazem parte duma nova ética puramente angolana.
O legalismo no sistema de recrutamento é tipicamente nacionalizado até ao nível mais alto da hierarquia. Assim não se assuste quando as exonerações e nomeações circundam a volta das mesmas figuras. Eu acredito pouco que aqueles que ontem arruinaram podem num futuro próximo benfeitorizar quanto o mecanismo funcional do aparelho não alterou. Dali que surgem as perguntas acima citadas. Como pode-se explicar por exemplo um incapacitado ministro que foi exonerado na defesa poderá dar o melhor de si no Interior ou na agricultura? Mas na realidade angolana vive-se uma rotativa das mesmas pessoas que ontem foram afastadas/exoneradas por negligências, incapacidades, incumprimentos etc. ocupando as cargas importantíssimas sem que fossem recuperadas através formações/estágios. Não se pode justificar como um falhado na cultura venha um dia ocupar o cargo da educação! Estes aspectos estão na base de falhas contínuas, de nominações e exonerações inesperadas. Este teatro vai causando graves vestígios em todas estruturas onde os nomeados nunca têm tempo de preparar-se porque fiquem três meses, entre o tempo da nomeação e da exoneração, nas operações sem puder exprimir-se profissionalmente. Pela experiencia estes emblemáticos já não produzem pois já perderam a potencia de criatividade e não tem outras fontes de inspiração por falta de controlo, concorrência e elementos exemplares aos arredores mas também por excesso de estímulos (mesmo sem labutar).
Até quando vai-se apostar nos quadros que temos? Esses que foram formados a trinta anos estão envelhecendo sem que o sistema deposite neles a confiança como ‘’qualquer pai dê aos seus filhos’’. O quadro nacional é frustrado porque as ambiciosas esperanças já envelheceram e não tem o relógio a espera. Os sonhos da maioria padeceram prematuramente só porque não tiveram relações familiares com o governo ou no círculo da influência. Dai que se aplique injustamente em reverso ‘’o filho da cobra é cobra’’
Se um ministro/embaixador exonerado de manha pode-se encontrar a tarde numa praia é porque não tem preocupação, arrependimento até ‘’mandem lixar’’ porque todo fat boy é consciente que já existe uma vaga reservada com antecipação para ocupar brevemente. Será que o sistema já apodrecera e não temos coragem de conceder ou então estamos caducos e não conseguimos adaptar-se do sistema? Nesse caso porque o ano da formação de quadros? E/mas até quando o ano de enriquecimento pessoal?
O recrutamento de quadros do topo da hierarquia governamental (secretariado de estado, ministro, governador, embaixador, directores de grandes empresas) é feito dentro de um circuito restrito de homens pertencente a uma elite (divinamente e) selectivamente auto-proclamada. Neste circuito só se realize permutações de piões, tendo um eixo que coordena as mudanças. Inexplicadamente o turbinado eixo ferruginoso de Angola ficou danificado. A realidade angolana prova que a exonerações e nomeações formam uma correlação composta nas estruturas da liderança por isso não pode se separar já que esta última segue logo a primeira depois de um breve espaço já determinado. O novo sangue que A. Neto profetizara injectar no aparelho do governo-estado jamais acontecerá, mas a substituição hereditária entre os pais e filhos vai-se interligar numa rectilínea ideológica dentro da luxuosa concha da nomenclatura governamental.
Ate áqui os resultados de várias substituições nunca propulsionaram a economia do povo num movimento em progresso pois corrompeu o núcleo principal da consciência angolana dando origem a uma incontrolável corrupção que vai alimentando sonhos de dinossauros políticos e crocodilos económicos. Não se vai negar os elogios da nossa economia tão emergente que se ''marketise'' por ai enquanto a miséria prevalece e a pobreza persiste.
A lei da negação entre o velho e o novo tem uma definição diferente na lógica filosófica de Angola porque o velho nunca se afaste cedendo lugar ao novo. O novo envelhece sem percorrer o tempo angolano.
Nkituavanga II
Out2010/03