No percurso da sua historia a mulher angolana conheceu duas vividas experiências.
Actualmente é uma experiência de todos angolanos mas arremessada da forma mais
marcante na vida da mulher. O homem viveu uma experiência única, invariável e
continua enquanto a mulher que é o berço da família angolana tem experimentado
no seu osso e carne uma caminhada dolorosa numas expectativas regressivas cujas
promessas dos ilusionistas vão carregando ao abismo do desespero.
Os grandes maquiavélicos da historia que souberam como destruir uma nação,
souberam eliminar silenciosamente e paulatinamente a mulher endurecendo suas condições
socioeconómicas apagando seu lugar de destaque no seio da sociedade.
Infelizmente esta regra, queira como não, é aplicada contra a angolana que vive
numa sucessão da pobreza à miséria, do desemprego ao sofrimento, do desleixo ao
abandono experimentando com persistência uma tortura moral na sua amargurada
vida.
Os sábios observadores que entendem como se faz a leitura do tempo angolano
descobriram que a mulher de Angola que sobreviveu os sofrimentos do comunismo e
do partido/governo único safou-se porque soube aproveitar esquematicamente o
que o sistema colocara indesejavelmente na disposição da sociedade: A BICHA.
Maria da Bicha não foi uma novela, fabula ou sonho; era uma realidade visível
e palpável na sociedade angolana. Ao homem desta época foi bloqueado toda
capacidade criativa e inovativa e toda iniciativa no mercado laboral, produtiva
dependendo simplesmente as orientações da ditadura proletarizada. A economia da
guerra não oferecia um salário capaz de aguentar o sustento completo da família.
Maria da Bicha era uma mulher metropolitana porque no campo rural nunca havia
bichas. Queria aqui dizer que o dirigente angolano sempre confundiu Luanda com
Angola. Ele sempre limitou estrategicamente Angola por Luanda. Tem uma visão
escura crendo que Luanda é Angola por isso desde aqueles tempos nunca meditaram
de abastecer as bualas, comunas, raramente os municípios. Maria da Bicha não
podia deslocar-se as comunas para vender seus produtos uma vez que as deslocações
eram possíveis com permissão de ''guia de marcha'' que não era fácil adquirir
para desempregados. Algumas curiosas com ''boas relações ou cunhas'' iam
comprar nas bichas em províncias e possivelmente lá vender; por enquanto
os bilhetes da Taag não eram fáceis (comprar, confirmar, reconfirmar e as
listas de espera no Aeroporto eram ilimitadas).
A mulher angolana identificou-se por Maria da Bicha, não porque gostava de
bichas mas a condição foi-lhe imposta pela dureza da sociedade. Condição esta
que também lhe foi imposta pelo dirigente do partido único incapacitado de
abastecer o mercado comercial. Foi uma escolha de seguirmos a via politica que
optamos e temos de assumir a nossa responsabilidade; de mesma forma que
aconteceu com a guerra em
Angola. Maria da Bicha não tinha liberdade de comprar nem
vender porque era controlada pela segurança comunista. Maria da Bicha foi ate impedida
de praticar kitanda, pois era chicotada nas praças, apanhada nas ruas, não deveria
ter cantina ou lanchonete. Tinha filhos a cuidar e outros nas escolas e um
marido enviado constantemente nas frentes de combate. Muitas entre elas foram parar
na comarca de Petrangola ou Viana. As poucas mais teimosas ficaram desgastes. Maria
da Bicha sacrificou a sua vida para sustentar a família uma vez o homem não
pude faze-lo. Há uma pouca minoria que conseguiu distinguir-se mas apenas
aquela tendo conexão com o partido: eram filhas de... ,mulheres de... ,famílias
de...Mesmo assim Angola tinha mulheres lideres, mulheres nas instituições,
mulheres politicas e militares, mulheres operarias etc. Realmente Maria da
Bicha passou toda a sua vida de bicha em bicha só porque o salário do marido
era insuficiente numa sociedade em escassez de produtos alimentares e um
mercado vazio em bens industriais. Ela foi a defensora e ganha-pão da família
angolana, embora considerada de irrelevante pelo dito Partido de trabalho.
A chegada da dita democracia angolana ajudou a mulher a transladar na sua
profissão não desejável. Neste sistema deu-se certa abertura para praticar a
kitanda mas com que preço? A kitandeira podia ser operacional mas sua
actividade foi ultrapassada pela zunga, uma vez que todo mundo necessita de
vender e os poucos clientes com grandes poderes de compras, tem agora ''asas''
e esperem que os produtos vem ao seu encontro.
A mulher angolana esperou pelo melhoramento da situação mas suas esperanças
caíram no buraco uma vez viu o seu marido condenado ao desemprego em detrimento
aos alheios. A bruta concorrência na kitanda viu-se infiltrada com a participação
de alheios que trouxeram novas formas de vender produtos andando duma ponta da
cidade a outra, nas ruas, nas repartições, ate no meio das estradas
engarrafadas. Hoje em dia vende-se produtos especiais nos quartos, sala de
banhos, nas discotecas, cinemas, no comboio etc.
Zungueira aproveita uma ocorrência quase castigo da sociedade, que vai
usando como oportunidade para colocar a sua experiência, a sua antiga arte,
desta vez renovada e inovada. A mulher angolana não teve grandes brechas para
estudar como outras africanas visto a limitação diabólica do colonialismo. A independência
trouxe esta possibilidade mas o sistema comunista não tinha capacidade na resolução
de problemas angolanos. A mulher angolana como jovem é dedicada e tem características
e vontade de instruir-se, preparar-se profissionalmente. Ela tem a gula de
frequentar grandes instituições educacionais uma vez possibilidades são disponíveis.
Ela preocupa-se sempre entrar no casamento com boas bagagens intelectuais, já
que o seu homem embora desempregado tornou-se exigente. O homem da democracia
angolana não ficou com braços cruzados mas vê-se com possibilidades limitadas
como no comunismo. A boa sociedade é só para os angolanos escolhidos e não para
os chamados. A porta para um futuro melhor já anda impenetrável para o homem
angolano. Essa condição tem estimulado a mulher a refugiar-se na zunga. A Zungueira
tem certas liberdades que permite-lhe circular livremente o território
nacional; já não há guerra e as minas tem hoje poucos efeitos. Ela viveu uma porção
da vida em abundância aproveitando as poucas migalhas que caiam nas mesas de
gatunos que saciavam as riquezas angolanas, que caiam das gavetas de tribos
de...,famílias de... ,segunda e terceira mulheres de...Ela usa hoje o que
acumulou neste tempo do ''boum económico, da economia crescente'' para montar
um pequeno negocio vendendo primeiro nas ruas, depois a toda cidade passando
pelas comunas, penetrando municípios. Quando o negocio é florescente então
dá-se uma pequena olhadela nos portos, aeroportos e postos fronteiriços.
A zunga representa hoje a imagem de Angola. Segundo o nível de Angola a
zunga não deveria ser uma profissão; seria um biscate de vergonha. Para
confundir a visão de lideres de Angola, a Zungueira é hoje famosa mesmo
carregando sofrimento pelas costas. Por isso ate homens optaram pela esta alternância
profissional e poluam sem vergonha as ruas da China, Turquia, Namíbia etc. Em
Luanda e partes a Zungueira é corrida, insultada e surrada, seus produtos
deitados ou dados aos cavalos da policia. Governantes criaram mercados intermediários
sem balancear com o índice populacional, índice do desemprego nos bairros etc.
O grande mercado é situado alem do alcance da própria Zungueira, solução dada
com inveja. A Zungueira tem mais opções que Maria da Bicha, que tinha um marido
trabalhador com um salário insatisfeito. A Zungueira tem um marido condenado ao
desemprego pois o mercado laboral está inundado por chineses e outros
protectorados de generais.
Hoje a única forma de combater a Zungueira é fechar completamente o mercado
de dólares enquanto o próprio governo precisa-los para a sua reserva e
business. Hoje ate alguns políticos praticam uma forma de zunga por isso temos
muitas contas perdidas em vários bancos da Suíça, Portugal, Brasil, contas
espalhadas em varias ilhas de paraíso planetário.
Queiram como não a zunga é uma solução forte para varias famílias
angolanas. Ela não é uma tola profissão mesmo assim pensam alguns. Algumas pagam
impostos e resolvem mais problemas mesmo sem dizer que ''o mais importante é resolver os problemas de certo povo''. Afinal
a Zungueira também tem conselhos a dar aos intelectuais angolanos.
O que a zunga tem dito-nos: seguimos !
https://youtu.be/4oq8yyhbMfw
Nkituavanga II