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sexta-feira, 12 de novembro de 2010

VELHO PAULO TRINTA E CINCO

Mais um 11, onze de Novembro como se dizia na minha buala; mais um ano do aniversario do nosso povo desde que se libertou do jugo colonial. Este 11 de Novembro é em Angola um dia de honra ou de homenagem? Pergunta esta que não consigo responder e que gostaria alguém respondesse porque a lógica da minha percepção oferece-me uma definição fora do normal.

Nesta data, só me lembro mais do nosso falecido velho Paulo trinta e cinco (35). Quando se fala do velho Trinta e cinco no seio do meu povo, nas aldeias do Béu pensa-se então do kibanga. Pensa-se daquelas conversas quentes das noites aos arredores do fogo onde se contava quase de tudo. As conversas do kibanga eram animadas com umas gratinhocas de jingubas, milhos com café kabiba (cafe sem acucar) etc, No kibanga (komba) muitas pessoas foram alcunhadas em relação aos tipos de conversas que produziam ou talvez devido eventos dramáticos que foram sujeitos.

O velho Paulo foi um digno combatente angolano na tropa portuguesa em Macau. Avo 35 elogiava-se da sua representação neste exército do colono, cujo muitos jovens angolanos foram forçados de prestar serviços desde 1935 nesta pequena ilhota da Ásia, colonizada na altura pelo salazarismo. 1935 era a conversa habitual do dia-a-dia do velho Paulo. Assim foi apelido por ‘’35’’ até a sua morte. Hoje Angola completa 35 anos como nação, e, eu pensei muito neste meu velho 35 e as historietas da ilha Macau que contava-nos naquele kibanga onde se devorava ''pratos'' de wangila (geri-geri), mbonde (calulo selvagem) e outros conforme diferentes estacões agrícolas do ano.

Nesta altura ainda pensa-se daqueles angolanos que vivem miseravelmente nas ilhas de São Tomé onde foram reportados pelo regime salazarista. Ainda há angolanos que vivem as consequências do racismo em Brasil, e que gostariam logo a primeira oportunidade voltar as terras mães de Angola. Enquanto muitos festejam hoje o boum económico de Angola e outros esquematizam o regresso de compatriotas da diáspora ou talvez da Zâmbia ou RDC mas ignoram totalmente os gritos daqueles moribundos em São Tome, Brasil e outras partes onde as esperanças vão sumindo com uma velocidade quase triplicada daqueles que em Angola com migalhas ainda vivem. Que a memoria do velho 35 repousa em paz enquanto nos vamos tolerar 35 anos de terríveis gritos.

Completou Angola 35 anos…


Nkituavanga II