BEMVINDO !!!

OFERECEMO-LHE SERENIDADE PARA COMPARTIRMOS SABEDORIA

sexta-feira, 24 de abril de 2009

QUE A MAIORIA VENCE

Nascer nas lutas

Recebi na minha infância uma educação que faz de mim um verdadeiro homem que vive a lógica da vida respeitando as regras e normas que gerem as sociedades. Meus pais nunca foram ricos e deles não herdei fortunas ou mesmo um esqueletinho liaço de verdes (dólares). A minha vida foi sempre uma sucessão de lutas para o ganho-pão e nunca procurei refugiar-me na aprendizagem da arte de dois dedos (roubar) ou mendigar para satisfazer as reclamações do meu banco digestivo. Mentiroso ou aldrabão são denominações que nunca desejei como apelidos. Até porque passei pelas escolas onde ensinou-se a educação cristã, civismo e moral, filosofia, sociologia, psico-pedagogia e direito do trabalho. Tive amigos maduríssimos que ensinaram-me o bom senso da vida. Conquistei donzelas que são hoje mães com altas qualidades de mulheres virtudes. Frequentei velhos que em mim investiram a sabedoria tradicional dos bakongo.
Ao longo da minha vida, meus olhos foram testemunhos dum acontecimento entre tantos que para mim foi maravilhoso. Foi na cidade de Praga onde segui a transmissão em direito duma demonstração da tecnologia industrial dos checos. A televisão local apresentava a transferência de um catedral erecto duma cidade a outra. Ver um super-camião carregando nas suas costas de ferro um edifício daquele tamanho mudando-lo de uma vila a outra, era para mim um milagre tecnológico. Neste dia a minha consciência refutou aceitar a imagem dos acontecimentos que meus olhos transferiam-na. Os meus sentidos físicos não acreditaram mesmo quando a realidade foi visível. Da fundação ao tecto! mas tudo estava arrumadinho em cima da transportadora, cada bloco no seu lugar, até mesmo a torre do sino. Foi um caso notável mesmo para toda a nação, comprovado pela curiosa população aglomerada ao longo do percurso. A policia trânsito acompanhava o evento para estabelecer a proteção e liberdade rodoviária. Um helicóptero assinalava a situação com antecedência, para além da equipa da local televisão que no silêncio cumpria o seu dever.

A verdade na mentira

Uma vez de visita em Bona, numa boa tarde de sábado animada pelas conversas amigáveis, acentuada pelos sabores de diferentes tipos de cervejas, licores e sumos, tentei relatar o acontecimento que presenciara em Praga sobre o deslocamento ou simplesmente transportação do catedral. A casa onde fui hospedado cheirava o enchente de amigos com suas esposas entre outros jovens que nesta bela cidade da Alemanha vieram saudar-me ou talvez matar o tempo, aproveitando queimar a gargante com o líquido suave. A minha narração provocou um terramoto de críticas. Uns falaram ironicamente, outros pejorativamente, alguns vomitaram gargalhadas. Fui considerado de mentiroso, aldrabão, inventor malífico, humiliado e ridicularizado até a péssima etc. Procurei defender-me dando mais argumentos mas a minha voz já cheirava mal que nenhum dos presentes queria ouvir. Mesmo sabendo conscientemente que contava o que aconteceu na verdade mas a voz da maioria condenou a minha numa culpabilidade assombreada. Implorei deuses da minha terra e dos meus antepassados mas a razão desistiu-me e refugiei-me na última posição: pondo a cauda entre as patas e dando lugar a tristeza de ocupar a minha pobre consciência. O resto do dia foi para mim silêncioso pois o gosto do sumo desaparecera cedendo o lugar a margura nas papilas gostativas da minha lingua colada ao palacio bocal. Passei toda a noite rezando para que haja um milagre. Procurei no vazio como defender a minha razão e assim provar a veracidade do sujeito. Foi uma longa, escurinha noite onde a maioria venceu embora injustamente.
Mesmo assim, a minha pouca consideração fez com que viessem mais amigos no dia seguinte, domingo. O serviço protocolar não alterou, porque era numa familia onde a bondade tem sido natural. A presença repetitiva dos visitantes do dia anterior roubou a paz da minha subconsciência mas não havia outra alternativa, senão murmurar no silêncio de um coração ferrido. Ninguém pensou repetir a conversa do dia anterior porque penso eu que consultaram-se por via telefónica e decidiram não voltar-na pelo facto que sentiram como afetou-me. Preferiu-se discutir mais sobre a banda, sobre a política na terra de Nguxi etc. Como não tinha uma boa disposição ausentei-me moralmente da comba refugiando-me nos aparelhos musicais talvez pudesse encontrar um bom DVD que aliviaria a minha desolação. De repente passou-se uma faíscada de imagens pela TV que cativaram as minhas lampadas visionárias. Sabias o que? Desta vez foi a TV alemã a transmitir uma cena da transladação de uma casa. Gritei alto e pedi que haja silêncio para que seguissemos o que lá se relatava com alta consideração. Graças a Deus que eu entendia um pouco desta língua da segunda guerra mundial. Assitiu-se silenciosamente, como se fosse num cimiteiro, o que aí se apresentava. Eu, cantonado numa cadeira não consegui reter o rio das lágrimas que desaguava na foz das minhas calças. Lagrimei quando o restante de visitas seguiam o programa. Infelizmente ninguém teve a coragem de desculpar-se pelos apelidos ou tratamento em geral que fui alvo no dia anterior. Assim terminou um dia em que entendi uma outra matemágica: Um mais a verdade constitue a maioria. Que a maioria não é apenasmente a quantidade númerica mas a qualidade daquilo que tem valor no tempo da prioridade e no espaço desejado.

O facto silencioso

Uma vez em Londres também tive a oportunidade de assistir, como sempre pela via televisiva, a deslocação de uma enteira população. Este facto de mudar os populares, meia centena de casas intactas e reajustar o resto da infrastrutura social no novo terreno aconteceu na aldeia de Kiruna, na Suécia. Esta cena que para mim foi mistério, é agora um simples facto, que até já não considero de milagre científico. Até porque com uma tecnologia tradicional no meu Béu translada-se as cubatas carregando paredes por paredes dando mais atenção no trio de suporte (m’bangu ye makunzi).
Nunca na vida a mentira irá dominar eternamente a verdade por isso, diziam os velhos sábios que a mentira não tem longas pernas.

JD Nsimba

terça-feira, 14 de abril de 2009

O DESAFIO DO GOVERNADOR MAWETE



Uige
, a provincia cafeícola do norte de Angola foi desde 1975 dirigida por vários comissários do Movimento Popular da Libertação de Angola entre os quais Ambrósio Lukoki, Manuel Quarta Mpunza e Lanvu Norma, descendentes de Ntotila. Hoje ela é dirigida por um nato da provincia, o Sr. Mawete João Baptista que promete bascular os dados na marcha do desenvolvimento socio-económico e político. O colonialista português que no norte de Angola encontrou uma forte resistência aplicou a sua política de exclusão a este povo, expandida exageradamente as estruturas e infrastruturas. Durante longos anos da governação totalitária, o MPLA comunista nunca nas suas diretivas teve uma política de desenvolver as provincias e muito menos do norte de Angola. Uige, o berço da revolução foi sempre considerado como fazenda de café e mercado para a exploração de quadros.
As declarações de Mawete é um desafio contra os habituais princípios do MPLA, que até agora só o Anibal Rocha tem desafiado e conseguido. Mawete tenta colocar-se entre duas pedras (posição de nkandi). Mawete tem a árdua missão de provar ao seu próprio povo que tem capacidade para tal. Primeiro é que o povo não confia muito ao homem, porquê:
1. Seus precedentes do MPLA falharam nesta missão de governar a provincia estabelecendo normas económicas capazes de desenvolver a provincia. Isto não talvez coloque em causa a qualidade dos antigos comissários mas talvez o próprio sistema (politique de nuisance) do Partido do Trabalho.
2. Os bakongo desconfiam muitos seus conterras do M... visto o comportamento adquirido de isolar-se aos restantes bakongo e familias. Mawete foi como ainda é autenticamente um deles (avidi mu mpambu a nzila). Este nunca aproximou-se dos bakongo em todo tempo que foi fervencente militante e destacado funcionário do M...
3. Os bakongo da oligarquia nacional com grandes poderes financeiros nunca pensaram numa resolução da crise da provincia. Eles ainda colaboraram para iniquilar toda iniciatica privada dos comerciantes locais na restruturação da provincia. Pergunta-se hoje o que fizeram Mawete e Lukoki em Quibokolo? Quantas vezes o Paulo Jorge visitou Maquela do Zombo? O que fez o Mpunza no Kuilo? O que deixou Mwanza Venancio de Moura na Sanza? Para não falar de Luvualu, Monimambu e tantos outros... Pergunta-se onde foram/serão enterrados?
4. A escolha do Mawete não foi bem digerida pelo povo do Uige visto a frustração imposta pela DISA dos tempos. Uige sofreu barbaramente pelo peso da dolorosa mão da segurança nos tempos de S...onde misteriosamente desapareceram jovens. Mawete é ainda hoje visto como homem da segurança, e a presença da dona Amelia ao seu lado prova isto, mas só os acontecimentos do tempo poderão remediar.
Nada impede o Governador a realizar seus sonhos e se racheter ao seu querido povo do norte. Mawete deve também demostrar pelo seu savoir faire a incapacidade do seu precedente (da Unita) cuja a ação é justuficada por falta de meios financeiros já que foi ‘ferrado’ pelo governo de Luanda.
Mawete, homem da bofia
No seu discurso Mawete não para de elogiar-se pelos trabalhos realizados como Embaixador em Cuba, Portugal e Congo democrático. O facto é que ele ocupou cargas diplomáticas em lugares estratégicos e obteve experiências que rebustecem seu CV, suas expectativas e ambições neste desafio. Estas experiências também reforçam a teoria da conotação de homem da segurança porque vejamos que:
1. Em Cuba, Mawete teve uma óptima exibição porque nesta Ilha da América Latina, Angola tinha centenas de estudantes forçados a integrar involuntáriamente as fileiras militares e descontentes da situação revoltavam de dia-a-dia e a sua erupção surge para quebrar esta resistência. Cuba colaborou ao lado da Russia na luta politico-militar contra a Unita e Cuba precisava um calejado da segurança capaz de operar secretamente sem que a CIA saíba o que se fritava. Ali o Mawete foi então homem da segurança.
2. Portugal necessitava de um homem de ferro porque a presença da Unita nas terras salazaristas precisava acções maliciosas. Mawete lá foi fechar o bico do Movimento do galo negro.
3. No Congo- Kinshasa Mawete foi para bofiosamente assegurar a victoria contínua dos Kabilas. Controlar o dossier ‘’complicidade da morte do Kabila, o pai’’ Ainda tomar conta do caso da ocupação do Kayemba. Mawete não teve a escolha de posicionar-se como homem da segurança depois de um longo periodo de desleixo que sofreu nas mãos do MPLA, ficou sem funções, vagabundeando as ruas da Vila Alice.
4. Mawete tem tudo ao seu poder para ser melhor que Anibal Rocha e o povo bakongo sabe perdoar no tempo de Deus. Mawete tem as benções de governar um povo como a população do Uige, que mesmo os do exterior vão orando para o sucesso deste. Qual é esse uigense que não quer ver a sua provincia no topo de Angola; capacidades, condições e recursos temos: porquê não?
Com o mandatório Mawete no comando, espera-se o triumfal regresso dos Construtores e Futebol Club do Uige na Girabola. Que tal do Dussol e Mama-me-leva?
Boa sorte, Grande Governador JB Mawete, desta vez o povo esta contigo!


Linha relacionada: Entrevista do Governador do Uige, Mawete(www.correiodigital.info).

domingo, 12 de abril de 2009

DICAS

- A poderosa arma nas mãos do opressor é a própria mentalidade dos oprimidos. STEVE BIKO

- Conhece Uige, só aquele que conheceu:
Candombe, o dito maluco, o famoso ’’Benfica perdeu’’ e o fotográfo Pepe. Não choremos os imortais! NSIMBA JD

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Carta aberta a uma Embaixada de Angola

(Personal perfil confidencial)

Ao seu Excelentíssimo
Embaixador da República de Angola em...

É com alto respeito e consideração que atravez esta carta, venho consultar a sua representação com objectivo de recolher informações sobre uma situação bastantemente preocupante. Sendo membro da sociedade civil angolana e pelo direito que me foi conferido pelas leis que gerem esta sociedade e pelo poder que em mim foi investido pelo Deus Creador do universo e humanidade tenho a fé e obrigação de defender minha pátria conforme as possibilidades sub meu poder e ao meu alcance.
Sabe-se que históricamente Angola conheceu e viveu uma longa guerra que deixou-lhe numas condições inagradáveis e caóticas. Actualmente o heróico povo angolano continua lutando para a sua sobrevivência e para a amelhoração da vida e da sociedade. Nestas circunstâncias os obstáculos ainda são vários mas a determinação e esperança são altas.
Permite-me Senhor Embaixador lembrar-lhe que a Unita que tinha estendido a sua guerra em todo espaço territorial de Angola deixou atraz um número elevado dos seus combatentes estrangeiros que sub as fileiras das suas forças combatiam e que se encontrem ainda espalhados em várias zonas de Angola. A zona norte que também foi afectada pelo sinistro viu seus filhos forçados a abandonar suas casas, aldeias para se refugear nas matas já minadas e até no Congo-Kinshasa. Hoje em dia verifica-se porém em certas comunas do Municipio de Maquela do Zombo, na provincia do Uige, nomeadamente no Kuilo-Futa, Sacadika e Beu a presença de um povo estrangeiro que em centenas ocupa as nossas aldeias e cubatas. Este povo Tutshi é originado de Ruanda que num passado próximo conheceu a guerra e que agora apaziguada. Reitero-lhes que esta informação não possue carácter polémico já que esta presença notória é mais do que visível já que alguns destes são hoje chefes de aldeias (sobas) e que detenhamos provas concretas ao nosso poder.
Autoriza-me Senhor Embaixador perguntar-lhe sobre a posição do Governo Angolano e da sua política sobre este caso bem verificado. Entende-se a hemogenea desta questão e respeita-se a posição oficial do nosso governo mas as prognosias não estão ao favor do nosso povo pois os acontecimentos históricos do passado no Congo, Ruanda e Burundi em relação a este povo pode em algum sentido provar a nossa maior preocupação e frustração. Aflito pela situação, permite-me Senhor Embaixador de transmitir francamente esta preocupação que necessita uma atenção da consciência angolana, e com a esperança de ver os esforços evidenciados pelo Senhor Embaixador, sua representação e pelo governo da Soberana República de Angola.
Mais uma vez, permite-me Senhor Embaixador terminar esta exposição agradecendo a vossa atenção. Assim espero ansiosamente ler–lhe num futuro próximo.


Que Meu Deus ricamente abençoe-lhes.

Obrigado

JD Nsimba


Nota: Esta carta foi enviada aos 27 de Setembro 2004 com selos de recomendação. Depois de 45 dias de silêncio a mesma cópia foi enviada ao Sec. das ONU e ao Governo de Angola.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

POESIA - Simbolo (dedicado a Nelson Mandela)

Longe da estrada aflorece o sangue preto
Rrenasce o sol da esperanca
Onde o suor pinta a picada
Roendo chicotadas do apartheid
no retroceder daquela pancada
Soa o fogo da desconfianca
Queimada no fundo do fogo preto

Oh! mundo de krumah
Salva o seu barco
...reimada de Mandela
Arrancada no ferro branco
Cheiroso da negra tutela
Fortificado por krumah
Sobre pratas do fogo preto

Na beira da prisao perpetua
frita-se o suor do negro
Garras vitoriosas do fumo negro
no fundo d'Africa mutua

POESIA - Fome

Minha cubatinha tem tudo
Meus pequenitos sao livres
mas abafou-se a respiracao
...alguem deve bufar...

Angola hipnotizada pela crescente proliferacao das igrejas

ANGOLA HIPNOTISADA PELA CRESCENTE PROLIFERAÇÂO DAS IGREJAS

A religião é um sector social que se desenvolve entre outros sectores económicos, políticos, culturais, sociais etc. Portanto a religião é uma esfera que ao mesmo tempo é um instrumento propulsionador do desenvolvimento. Queira como não Angola é uma nação cristã que duma forma a outra se liberalize dando aberturas as outras creênças de desenvolver livremente suas actividades desde que não colidem as políticas orientativas que a constituição estipula.
O Cristianismo que tem suas alicerces numa orientação de tolerência, de amor, perdão e pacificada tornou-se num ninho onde homens animados com o senso lucrativo, gula da fama e poder se infiltrem para desenvolver suas actividades maliciosas usando a bandeira cristã para melhor acumular o que pretendem, desviando assim a vigilância governativa e das próprias instituições cristãs. Este talento tem hipnotizado as instituições, o governo e a população poluindo o belo Nome, a doutrina e as estruturas do Senhor.
A proliferação das Igrejas surge de forma violenta, sem eficacia mas transmitindo ondas de decepção a população uma vez que ela observa o apodrecido fruto que nelas se produz, sem portanto identificar por quém. Esta proliferação tem suas causas e justificam-se duma forma não de acordo a doutrina do Senhor mas que monopolize uma expressão no seio da Igreja, do governo e da sociedade em geral. A proliferação da Igreja angolana é crescente mas negativa, já que se ergeu mesmo no centro das instituições cristãs e tem ocupado um espaço irrigatório desde diferentes Igrejas...
Qualquer que seja o campo da dissertação quando se fala da Igreja fala-se automaticamente do Cristianismo que tem direita e estreita conotação com ela. A Igreja aparece áqui como conjunto de homens chamados cristãos, quer dizer discípulos ou seguidores de Cristo. Membros duma seita não são considerados nem chamados por cristãos qualquer que seja o erro cometido em qualquer linguagem vulgarizada.

A proliferação
A proliferação pode se identificar por duas operações ou direcções na germinação das Igrejas, porque a proliferação em si é o acto da reprodução das células formando novas petalas num determinado espaço. A proliferação das Igrejas é um fenómeno social que se vive de acordo as operações que vão metamorforseando-las apôs uma programação voluntária ou forçada.
A Igreja cristã (falo do Corpo de Cristo) desenvolve-se segundo a missão estabelecida, como instrumento estratégico para ajudar o seu cumprimento até atingir a visão recebida. Nela, o trabalho realizado é medido pelo resultado visível que origina um crescimento qualitativo e quantitativo. Esta ampliação é um síntoma causado pela operação sofrida. Esta operação de germinação uma vez negativa provoca uma ampliação volumosa (quantitativa) da Igreja que embora isso conhecerá uma divisão. Quando esta positiva for a Igreja sofre uma multiplicação (qualitativa).
A divisao é cheia de negatividade já que provoca uma ruptura ou desmembramento obrigando uma massiva saída ou partida de membros para formar uma nova denominação em oposição a Igreja mãe. Este tipo é regular e constante que vive-se hoje em Angola como quase em toda Africa. Infelizmente não se discerne até hoje que toda Igreja originada por uma divisão (proliferação divisional) arrasta sempre uma maldição. A proliferação divisional não é uma acção ou inspiração divina e nem ocorre na vontade permissível do Criador e tem uma motivação humana. Esta proliferação é dolorosa porque separa os membros forçando-lhes numa guerra fria e numa competição sub-entendida. Este fenómeno provoca grandes fragilidades nos elos fraternais, abrindo facilidades ao inimigo instaurar uma propaganda denigrosa contra o corpo de Cristo.

A proliferação positiva inserre-se na vontade do Criador como resultado de um trabalho efectuado sob a inspiração divina, conforme as instruções divinas e resulta numa ampliação saudável. Nesta proliferação multiplicacional a Igreja não sofre nenhum transtorno ruin mas multiplica-se de forma qualitativa originando uma nova estrutura no seio da mesma familia com dependência a Igreja mãe ou talvez independente mas beneficiando a colaboração activa da Igreja mãe sob a influência do pai espiritual. O desmembramento é realizado com uma autorização, adicionando as benções da casa mãe.

Os justificativos
A actual proliferação pode se justificar por diferentes vias e razões mas existe um contexto geral como observar-la.
O ponto de visto económico oferece-nós justificações já que o mercado nacional apresenta oportunidades variadas. Existe em Angola uma forte potência de entrepreneurship. O mercado não é bem saturado em produtos, a procura é alta mas não há espaço na escolhe da oferta já que não há invenção, transformação e inovação. As crises morais, psicológicas e sociais encontrem uma solução pacífica na mensagem bíblica. Daí crie-se Igrejas para colmatar esta necessidade criando dividendos financeiros, acumulando poder e fama sem a supervisão duma instituição governemental. A criação de inumerosas denominações em Luanda e nas Lundas reforça a mira da glutinação de lobos e raposas que sempre intensionaram infiltrar o corpo do Cristo. Nessas zonas a Igreja pode funcionar como cubertura as actividades paralelas que se pretende desenvolver.
O ponto de visto histórico prova que o angolano que foi forçado de se mergulhar numa turbilhão política tem na mente que política é sinónimo de dirigir. Como o mercado político é saturado a tendência é criar conforme as oportunidades do presente uma instituição de massa que posiciona-lhe no topo duma hierarquia qualquer. Como a Igreja se desenvolve numa independência e que oferece possibilidades aos audaciosos oportunistas mesmo sem vocações a via, a proliferação surge então como a autêntica alternância.
O ponto de visto humano também oferece possibilidades aos líderes da segunda linha (ancião, diácono, dirigentes de sectores até corista) explorando a facilidade governemental na criação de Igrejas, cobiçando as posições dos líderes da primeira linha (ministros) para também ocupar posições cimeiras. Incluimos neste ponto de visto a falta duma formação adequada aos líderes da segunda que preferem herdar o ministério sem portanto herdar as perseguições.
Existe uma necessidade obrigatória para qualquer povo de possuir um conjunto de normas sejam religiosas, culturais ou morais que vão permitindo-lhe ter uma vida socialmente aceitável e aproveitosa no universo. Como vive-se uma crise moral na sociedade universal recore-se a Igreja como instituição com capacidade de formar homens com uma mentalidade socialmente nova. A Igreja cristã com uma doutrina original proporciona a melhor educação e o que de melhor se deseja.
O ponto de visto religioso é uma fonte desastrosa que estimula a proliferação das Igrejas em Angola. Existe no seio da Igreja cristã uma crise de identidade. Partimos de ponto que a própria Igreja já não reconhece seus deveres e direitos faz com que usurpadores se apoderam desta fragilidade e nela se mistura criando mais perplexidades enquanto líderes vão acaparando-se do “3G factor”.
Vejamos o caso da CICA que seria uma instituição superior em Angola, incapacitada hoje de fazer uma reflexão sobre as crises no seio da Igreja angolana. Com a consideração e respeito que ela desfruta deveria representar especificamente a Igreja cristã de Angola. Não se pode explicar como no seio duma comunidade de Igrejas ditas cristãs tenham como membros Igrejas formuladas nas heresias? As seitas que negam Cristo como cabeça do Corpo e que substituiram-lhe pelos seus fundadores, empreguem doutrinas contrárias daquilo que a CICA representa. No cristianismo o desenvolvimento/sistema não é democrático já que o seu Criador não é democrático. A Igreja Cristã não se desenvolve nos princípios democráticos mas nos princípios cristãos estabelidos pelo Senhor. Respeita-se a democracia como sistema mas a autocracia do Senhor é absoluta. A CICA vive numa crise de identidade e nela arrastou toda a Igreja cristã. O envolvimento de seitas mesmo para observadores é-na inaceitavel.
A resolução da questão do “3G factor” deve ser vista e estudada pela Igreja e governo. O “3G factor” é uma expressão inglesa que significa GGG, isto é Glory, Gold, Girls (diria-se gloria=fama, ouro=fortuna e meninas=concubinas). Este factor é a fonte de quase toda a poluição da Igreja no mundo. Quando os homens trabalham para ser glorificados é uma manipulação. Querem ser famosos, acumulando riquezas e colecionar mulheres enquanto sabe-se que o Criador pode proporcionar a dignidade, credibilidade, graças e benções. Este 3G factor é uma força muito mais atraente, que prolifera sem hesitação a Igreja cristã.

Sair da apatia
Desde a independência de Angola em 1975 até aos fins da decada 80 havia simplesmente 12 Igrejas cristãs reconhecidas pelo governo comunista no lugar. Estes tiveram uma longa luta de sobrevivência que ofereceu-lhes uma coesa maturidade. O sistema político não encorajava a criação, evolução e expansão da Igreja num tamanho assustador, em contrapartida havia um orçamento reservado anualmente para estes. A actual democratização do sistema não implica desordem, libertinagem ou desfuncionalismo.
O governo que trabalha com a Igreja deve desenvolver uma nova política de colaboração com instituições religiosas. O departamento de Assuntos Religiosos necessita não só peritos em psicologia como se experimente mas homens com alta fé, conhecedores das realidades ministeriais, que tiveram experiências com o universo espritual do cristianismo.
- O volume de pedidos de mais de 800 denominações para se acreditar é prova de desordem. Para evitar este género de situações deve-se dar mais consideração as 12 Igrejas que merecem o estatuto de herois. Trabalhar com estes no sentido de encontrar soluções nas crises religiosas e com elas traçar uma nova metodologia para o reconhecimento de novas Igrejas. E preciso que haja mais Igrejas mas deve se velar da qualidade destas pois a quantidade desvie-nós dos objetivos: trazer a consolação em vez de desmistificar crianças por bruxos. Instaurar a harmonização entre angolanos em vez de reforçar a injustiça, corrupção e tribalismo, catalizar a paz em vez de falsificar moedas e traficar drogas e ajudar o governo naquilo que é justo, agradável, permitido e aceitável.
- O governo deve estabelecer uma nova instituição para controlar anualmente o exercicio financeiro de cada Igreja. Isto evitará expeculações no seio da população mas também a exploração do fiel/povo pelo ministro. A materialização deste pode resultar positivamente uma vez que o governo estabelece um meio de apoio financeiro aos ministros.
- Deve-se fazer um novo estudo (re-examinação) dos processos de pedidos para diminuir o número de denominações. Igrejas com a mesma visão, mesmo doutrina deve-se unir. Não se pode justificar a existência por exemplo duma Igreja Batista do Norte de Angola que trabalha isolado quanto existe uma outra Igreja Batista do Sul de Angola. Muitas Igrejas tem o mesmo denominador ou talvez o mesmo coeficiente: Igreja Evangelica de Angola, Igreja Protestante de Angola e Igreja Batista de Angola. Há Igrejas cujo o simples nome é vago, isto é sem sentido: por exemplo uma Igreja que se denomina “corpo do Cristo”. Igreja do Santo Espirito na terra, Igreja do nosso Senhor na terra etc Não se explica que a dita Igreja dos 12 apóstolos de Angola não acredite em Cristo que foi o Senhor dos ditos 12 apóstolos, contradição!
- As novas Igrejas ditas de revivância não podem ser criadas ou dirigidas por elementos angolanos/estrangeiros com menos de 10 anos de residência no país. Estes podem não conhecer as realidades históricas ou culturais de Angola. O caso de missionários é diferentes destes. O missionário tem sempre uma mensagem e um destino. Devemos ver quém os comissionaram, com que objetivo e quém os recepcionam. Isto não é protecionismo mas trata-se do controlo do padrão da nossa cultura e tradições.
- Em Angola existem muitos obreiros que não tem e nunca tiveram uma genealogia cristã. Naturalmente sabe-se cada filho tem sempre um pai, isto funciona no seio da Igreja. O testamunho ministerial de cada servo deve ter esta genealogia como parte da biografia cristã. Aos lideres da primeira linha deve se exigir esta genealogia autenticada com assinatura dos pais esprituais e testemunhados por outros ministros da mesma trajetória cristã.
- A CICA que há longo ficou apática deve ter a corajosa missão de desminagem, isto é eliminar no seu seio seitas religiosas. A representação física desta organização apresenta contradições internas mas que tem uma magnitude influência externa. A maioria das Igrejas angolanas encontram-se no seio desta agremiação que deveria defender suas posições diante do governo. Isto implica ser uma instituição exemplar com dignidade deontológica nacional. Ela tem uma expressão bonita mas muito frágil, hipnotizada perante o governo, perante a crescente proliferação. Ela não joga o seu papel de encubador e estimulador cristão. Ela deve redefinir a sua missão, composição ou talvez que opte pela mudança de denominação. Não há lógica que a Igreja Kimbanguista como tantas outras que negam Cristo fossem membros da CICA, corre-se o risco de enquadrar o Bundu dia Kongo e tantas outras na CICA.

Prov 17:21
O que gera um tolo, para a sua tristeza o faz; e o pai do insensato não se alegrará.

Como o cristianismo não é religião; de facto há Igrejas que não deveriam mesmo existir em Angola mas que são absurdamente membros efetivos da CICA (profonação das instituições). Isto é catalizar umas ondas negativas, pessimistas e confusas.

Destino incerto
A proliferação angolana não é aceitável e deve se combater com novas regras. Estas regras deve-se adquirir numa colaboração entre a verdadeira Igreja cristã e o governo. A Igreja deve iniciar esta purificação no seu seio dando exemplo ao governo. Há necessidade que haja uma proliferação positiva, que será o resultado de um trabalho feito com amor, que não só produz o crescimento da Igreja mas a união entre angolanos, Igrejas-instituições-governo.
O servo deve ser preparado tanto espiritualmente como teologicamente. O servo deve ter uma origem e uma continuação. Toda Igreja deve também ter uma origem e uma continuação ambas verificadas e comprovadas pelas instituições e governo. A Igreja é o espelho duma nação que não deve refletir ferrugens, nódoa e cheirar noseabundo.

Mrc10:43-44
Mas, entre vós, não será assim; antes, qualquer que entre vós quiser ser grande, será vosso serviçal; E, qualquer que de entre vós quiser ser o primeiro, será servo de todos.

A proliferação das Igrejas deve se combater pois é também um centro de atração para parasitas angolanos/estrangeiros que funcionam como bando mafioso no território, reflectindo uma imagem negativa do cristianismo angolano no mundo. A Igreja é um campo limpo, livre e sem limites que necessita aqueles que estão preparados para ser transformados só pelos ensinamentos de Cristo.

Na gingubaria da dona Maquiesse

Na gingubaria da dona Maquiesse


Simples constato
O tema desta obra é uma compilação do estrangerismo numa tónica contraditória. Ele prova a debilitação e limitação duma língua mas também a sua adaptação e complementaridade as outras, formando assim uma cordenação linguística que forma um sentido, oferece um sentimento, estimula emoções, cria um elo comunicativo etc...Uma gingubaria pode não existir como palavra ou elemento físico mas que pode ser argumentada e defendida de acordo a sua utilidade ou da projeção que se pretende fazer no domínio ( como caso de estudo) linguístico, socio-cultural, teatral, filosófico, mesmo político etc...
Neste contexto a gingubaria é simplesmente a forma irónica de descrever a casa da Dona Maquiesse onde as crianças por acidente do destino de tempos, oportunidades, cultura e recreatividade irónicamente trabalham numa inconsciência eufórica dando resultado a um próspero negócio que sustenta vidas e familias. Nesta comba de cascadores de gingubas passa-se momentos felizes a companhia de amigos, familiares, visinhos, visitantes e quitandeiras que por acidente da natureza e curiosidade raspam as paredes desta casa entrincheirada, como modelo na arquitectura desta esplendida cidade de Luanda. Numa ou duas occasiões, por aventureiros passageiros condenados por por faltas de toiletes públicos nesta cidade tentam por áqui desvaziar-se da mistura química empacotadas nas suas barrigas, também zungeiras como a maioria da população a procura de um ganho-pão. A gingubaria é um local de refúgio para várias crianças que aproveitam as frequentes faltas ou cortes de luzes nas suas casas obscurecidas nas ondas de calor da bela capital. Ela é talvez um local de refeições para aquelas ameaçadas pelas impossibilidades e incapacidades financeiras deste ou daquele parente, pago por sucessivas promessas de insolventes patrões. Ela não deixa de ser um lugar de concentração ou de proteção contra o banditismo eruptivo desta cidade flutuante a uma velocidade de cruzeiros brasileiros. Esta permite as crianças de provar como a força da vontade de contribuir é mais forte a maldita força de roubalheira. Gingubaria não é gingubeira mas uma simples contração do prefixo com o sufixo nos extremos da palavra mãe (nguba) formando dorenavante uma salada afroportuguesada.
Da Dona Maquiesse é um outro assunto...
Por acidente da natureza
O médico veterinário Dialámikua vive há longos anos nesta capital angolana, num dos cantos do bairro Prenda onde conseguiu por acidente da natureza uma porção de terreno onde acidentalmente injetou uma casa de três quartos. Depois de longos anos de trabalho na Rádio Nacional de Angola, ele conseguiu por vias esquemáticas viajar para Checoslovaquia onde terminou um curso para veterinários. No seu regresso, trabalhou na direção do ministério de Agricultura, onde últimamente foi achado de muito impeditivo e foi então transferido para os campos de Kwanza Norte e Sul, depois de rejeitar uma nova proposta para uma nova bolsa de estudo em Portugal. Momentaneamente tem vindo em Luanda nos weekends passar um tempo junto a sua familia (esposa, duas filhas e três sobrinhos), visitar amigos e colegas e sem esquecer matar a saúdade nas praias musicalizadas desta transformada capital financeira do Reino do Kongo. Nos periodos de ma-sorte tem vindo áqui a procura de material de trabalho, onde muitas vezes acaba por eternizar-se ocasionalmente por periodos superiores de 3 meses a espera de promessas da nossa bureaucracia administrativa, deixando atraz seus porquitos, cabrintinhos, galos etc, perdendo também o saborear de churrascos e debatendo-se com constantes reclamações da sua gargante oprimida do líquido suave do Dondo. Uma vez em Luanda, o Doutor como é conhecido no bairro, não descança em casa porque tem uma obrigação moral e professional de saúdar edifícios e várias direções do seu minitério como vermículo atraz deste director, chefes de departamentos, delegados, chefes de secções etc. Levantar material em Luanda torna-lhe por cativeiro dentro da sua profissão e responsabilidade.
Uma desta tarde depois de incessantes demarches, o nosso doutor regressa em casa e como tornou-se um hábito semanal não encontrou a sua filha no lumbo familiar. Preocupado pela ausência desta, pressionado pelas idas-e-voltas professionais, amedrontado pela insegurança desta cidade e confuso pelas obrigações familiares o homem não tardou por se desabafar perguntando
- onde está a Deborah?
- Foi na visinha do número 13, respondeu a esposa.
- ...mas o que tem lá feito todas as tardes?
- vão brincando e conversando entre amigos! afirmou a esposa.
- entre amigos? Rematou este com uma tonalidade assustadora.
Sabeis com é, quando os masculinos entram na conversa dos femininos! Daí o nosso investigador decidiu chegar a casa da visinha e verificar com suas próprias lâmpadas.
Bateu a porta da visinha que deixou uma vibração de dores nos seus dedos pois esta foi feita com uma madeira dura que não só resiste as chuvas mas contra todo contacto de carácter ameacador. Esperou uns minutos... e viu a porta distanciar-se devagarosamente numa faixa sob o acompanhamento de um som rectilinhar que transmitiu aos seus ouvidos um eco de fregação entre dois metais ruídos e pouco lubrificados. Neste espaço libre entre duas madeiras surgiu uma face sorridente que aproximou-se dele num zoom deixando exposto a clareza da cor branca dos marfins seguramente fixos entre dois lábios grossos da beleza africana.
- Sou o vizinho, pai da Deborah. Apresenta-se numa forma breve, fácil a ser identificado.
- Oh visinho, entra por favor! A Deborah está áqui. Disse a dona da casa.
Foi uma boa oportunidade para ele entrar e conhecer esta vizinha de belas tranças que tem a fisionomia duma conterra.
- Obrigado! Eu sou o teu vizinho do número 7, chamo-me Sr Dialám...
A vizinha cortou-lhe a palavra replicando: - Sim, o doutor uma vez negou de tratar minha filha que...
Foi também uma oportunidade do vizinho que por acidente da natureza de monopolizar a palavra dizendo: - Oh vizinha, não diz isso. Foi uma incompreensão! Eu sou doutor veterinário.
- Desculpa visinho, pode primeiro tomar a cadeira antes de explicar como é veterano e quando foi a guerra de Macau! Falou da guerra de Macau porque ouvia sempre do seu pai que contava cenas sobre a participação de angolanos na guerra de Macau sob a bandeira portuguesa, e também porque pensou que o vizinho shô doutor não poderia participar na luta da libertação angolana que levara ao onze, onze de novembro.
- vizihna, não sou veterano mas veterinário.
Aié! Doutor itinerário, o que isso?
- Não itinerário. Sou veterinário quer dizer médico de animais. Não trato pessoas mas só animais.
- Então porque te chamam doutor?
Sem resposta, o vizinho preferiu guardar um silêncio que vai permitir uma mudança de sujeito. Nesta fracção de segundos deixou seus olhos desfilar a geografia da sala. Como de custome, notou que uma das paredes da casa é decorada com o famoso quadro que muitos familiares visitantes não gostam e que se encontre quase em todas casas das periferias de Luanda com as escritas: NESTA CASA MANDA ELA E NELA MANDO EU. Numa olhada icognita e silenciosa girou as bolas de retinas em meia rotação, num estilo inocente mantendo a sua face imóvel para impedir sua visinha descubrir seus movimentos e reparou de súbito num outro canto uma fotografia empoerada, pendurada na parede e que deve lá estar por décadas. Como não conseguiu bem identificar a face, perguntou
-Suponho que esta é a foto do seu marido?
A vizinha lançou um sorriso calma e disse: Não! Não é meu marido, é então o camarada presidente, saudoso Agostinho Neto! Ela disse isso com todo o respeito como os crentes falam de Cristo.
- Oh desculpe não reparei bem, disse o vizinho.
- O meu marido não tem tempo para tirar fotos porque é um homem de negócio!
- Aié, em que negócio dedica-se?
- Ele não tem tempo para dedicar músicas depois também não tem amigos na Radio!
- Oh, que negócio faz?
- Ele é comerciante mas antigamente trabalhava na Textang.
- Tem ido as Lundas? Lançou o vizinho que logo pensou nas pedras.
- Não, faz negócios no Quimbele
- Desculpe a minha curiosodade, sois do Uige?
- Não, o meu marido é de Quimbele mas eu nasci na Ilha de Luanda.
O facto de marido trabalhar na Textang pode justificar o seu constante uso de panos mas as tranças não é bem da Ilha, pensou o vizinho que depois disse:
- Kimbele é na provincia do Uige, então a vizinha deve ser a Dona Alegria?
- Não, não sou dona Alegria! Chamo-me Maquiesse.
- Ma-kie-se, escreve-se com M-a-k-i-e-s-e, disse o doutor.
- Não é assim que está no meu Bilhete, é mesmo Maquiesse insistiu a vizinha.
- Vizinha, desculpe a minha curiosidade, qual é a origem dos seus pais?
- Meu pai e minha mãe vieram lá no Norte deles mas eu sou de Luanda e nunca fui lá no Norte!
- A vizinha não fala kikongo?
Deu uma gigante gargalhada antes de responder: Eu não sou lá do Uige deles como vou falar até kikongo?
- Eu sou do Uige e falo kikongo embora que vivo em Luanda onde fui nascido e crescido assim como as minhas filhas. Acrescentou o doutor.
- Oh visinho desculpe-me, a conversa me levou tão longe que esqueci de oferecer-te uma gasosa porque não temos cerveja.
- Não se preocupe! Pode oferecer-me um chá kabiba e nu ou mesmo água. Pediu o vizinho.
- Visinho, não entendo o que isso de chá kabiba e nu? Chá pode ser nu? Curiosamente perguntou.
- Chá kabiba quer dizer, chá sem açúcar e nu porque é sem leite, expilcou o doutor.
- mas visinho, não temos pão!
- Oh, não se preocupe com isso mas pode oferecer-me um copo com água para que não hajem protocolos.
- Visinho trabalha também no protocolo do presidente?
- Oh não! Protocolo quer dizer atarefado
- o doutor é assim muito complicado ?
Durante o decorrer da conversa as garrotas continuavam cascando gingubas sem portanto se distrair pela fervecentes conversas entre visinhos; talvez estão conscientes que foi pela acidente da natureza que se encontram presas nesta turbilhão de conversações.
- deixe-me dar uma ajuda a criançola. O doutor tomou posição ao lado da sua cascadora filha quando de repente a dona da casa resistiu.
- visinho, não faz isso porque vai sujar a sua roupa.
- Não se preocupe dona Alegria, isto é o trabalho que se faz nas nossas aldeias no meu Béu, lá nas terras do Norte onde produz-se muita ginguba.
O vizinho meteu-se logo ao trabalho, permitindo assim um bom tempo de silêncio, deixando a sua curiosidade crescer e a sua observação expandir-se. Ao mesmo tempo vai se lembrando das suas experiências no seu nativo Béu onde passou tempos da juventude nas últimas horas da dominação colonial e nas primeiras horas de Angola independente, depois de recuar de Luanda para se salvar das perseguições com motivos tribais. Pensou nas dificuldades deste tempo dominado pelas propagandas políticas e pelas prisões que sofreu sem motivos só porque tinha recuado de Luanda.
Nova ordem
Na gingubaria as crianças ou cascadoras como são chamadas sentam numa circunferência a volta do saco de ginguba centrado no meio. Cada cascadora tem um prato ou balde, conforme a rapidez de cada, onde vai depositando as gungubas já cascadas enquanto ao lado tem uma montanha de ginguba em piramidal onde vai cartando-las. Cascar é uma actividade muito simples e agradável as participantes e que não necessita de equipamento ou tecnologia.
Como numa comba as sete cascadoras trabalham largando de vez enquanto nos cantos dos lábios certas palavras e sorrisos mas muitas vezes gargalhadas porque a animação atinge sempre o ponto culminante já que muitas delas são consideradas de aventureiras no sentido banal ou simplesmente cómicas. Elas falam de tudo: sobre escolas, amizades, dos acontecimentos do quotidiano Luandês, da música, de programas televisivos etc...
Com a cordenação do tempo, movimentos, sorrisos e conversas, o saco do meio vai se esvaziando, enquanto as pirâmidinhas do lado vão substituindo-se portanto que as cascadas vai enchendo-se nos pratos. De vez enquanto as raparigas vão mastigando, movendo suas mandíbulas num movimento rítmico de esquerdo ao direito deixando também um espaçozito para que as linguas possem visitar o mundo fora da boca permitindo ao doutor de ver os detritos de gingubas meia-mastigadas antes que sejam encaminhadas aos quartos digestivos.
A dona Maquiesse muitas vezes ocupada com outras tarefas domiciliares, observa as crianças e de-lhes uma ajuda quando necessário for mas esta muito atento para com o saco do centro e na recuperação de pratos ou baldes uma vez cheios. Sendo Dona Alegria, não deixe de abastecer as cascadoras com água, chá, bulachas e tudo que tiver a sua disposição conforme as benções do dia.
O doutor sabe muito bem como é que este processo ocorre mas não deixe de esconder a sua curiosidade para testar a sua vizinha, já que esta é de Luanda mas vive numa cultura do Norte embora que nega conhecer-la. Ele aproveita esta brecha para conhecer a vizinha.
- Então como remunera-las? Retomou a palavra.
- Elas não levam números, visinho!
- Queria dizer como tem assalariado-lhes?
- Não, Sho doutor! não tem salários é só uma ajuda mas no fim ofereço sempre um pratito de ginguba.
- E como tem feito para controlar as gatunas?
- Aqui não há gatunos. As minhas visinhas são boas, nunca roubaram e não vão roubar porque são minhas filhas.
Ela jingumunou a sua boca para fazer entender que não gostou da pergunta mas viu-se obrigada de responder por respeito e depois perseguiu: - Controlar é muito fácil, vê-se a quantidade que cada uma recebe e a quantidade das cascadas que cada uma coloca no prato ou balde.
- Mas dona Alegria, outras estão a comer tudo!
- Não cada uma tem direito de comer e o mais importante é de colocar as cascadas no prato. Caso não haver as cascadas no prato é que se controla os bolsos e possívelmente a boca mas isso nunca aconteceu áqui porque as minhas filhas são obedientes e é por isso não chamo os rapazes neste negócio.
- Então a vizinha é mesmo do Norte porque tudo que tem feito e acabou de descrever áqui é o que na realidade se faz lá no nosso Norte, seja no Uige ou na provincia do Zaire... mas...nas nossas aldeias do Norte ginguba não se vende, queria dizer que não é um produto comercial. Vende–se ginguba em grande quantia aos comerciantes que vão revender as cidades, mas ginguba oferece-se.
- Aqui então é Luanda e no Luanda é bom negócio. Os meus filhos nasceram e crescem neste negócio de ginguba. Eu vendo ginguba torrada, fervida com sal, torrada com açúcar e também ginguba seca mas não gosto de vender a muamba.
- Oh é um bom negócio! A vizinha então é quente?
- Não, não vendo ginguba quente
- Eu queria dizer que a vizinha tem dinheiro?
- Não visinho, é só para aguentar os estudos dos miudos. O visinho é que tem jeepi!
- Oh é carro da empresa!
De repente o doutor deu uma olhadela no indicador do tempo que repousa no seu pulso esquerdo, assustou!
- Oh, já são 21 horas! Não acreditou que conseguiu de passar três horas, pela primeira vez na casa da vizinha e na ausência do esposo. Depois olhou a sua volta e disse: - Visinha Alegria, gostei da sua solidariedade comigo e para com as crianças. Estou feliz de conhecer-lhe como conterrana do Norte e vizinha de Luanda, como somos todos angolanos, espero um dia conhecer o seu marido mas é bem que não esquece que: O cascador não é verificado na boca mas quando as cascadas não chovem no balde então é revistado até a boca, isto o seu marido vai-lhe reiterar.
- O meu marido não pode retirar nada, é só presente.
O doutor preferiu guardar o silêncio para não prolongar a conversa, já que os indicadores do tempo não esperam por ninguém e os ressoantes ecos dos tic-tac de planos para o dia seguinte já resmungavam na manteiga do seu cérebro.
- shô doutor, estou grata conhecer-te sobretudo que me chama por Dona Alegria como meu pai também me chama.
O vizinho já se aproximou da porta com a Deborah seguindo a uns centímetros atraz.
- Obrigada Deborah, obrigado visinho volte mais um dia, concluiu a vizinha enquanto que a Deborah não esqueceu de receber a porção da sua prenda de dia, viu a porta encerrar-se a sua traz deixando escapar um mbuummm.... nos ares perdidos do calor da capital.
Assim reganharam a sua casa naquela noite de Luanda sob os olhares silênciosos de outros vizinhos forçados, pelo calor da banda de abandonar suas casas e refugiar-se fora de pátios dando atenção aos espectáculos que os passantes e zungeiros da capital oferecem-lhes.


* As denominações são inventadas e qualquer coincidência seria fabulática. Como trata-se dum caso de estudo, certos erros sao intencionais.