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sexta-feira, 24 de abril de 2009

QUE A MAIORIA VENCE

Nascer nas lutas

Recebi na minha infância uma educação que faz de mim um verdadeiro homem que vive a lógica da vida respeitando as regras e normas que gerem as sociedades. Meus pais nunca foram ricos e deles não herdei fortunas ou mesmo um esqueletinho liaço de verdes (dólares). A minha vida foi sempre uma sucessão de lutas para o ganho-pão e nunca procurei refugiar-me na aprendizagem da arte de dois dedos (roubar) ou mendigar para satisfazer as reclamações do meu banco digestivo. Mentiroso ou aldrabão são denominações que nunca desejei como apelidos. Até porque passei pelas escolas onde ensinou-se a educação cristã, civismo e moral, filosofia, sociologia, psico-pedagogia e direito do trabalho. Tive amigos maduríssimos que ensinaram-me o bom senso da vida. Conquistei donzelas que são hoje mães com altas qualidades de mulheres virtudes. Frequentei velhos que em mim investiram a sabedoria tradicional dos bakongo.
Ao longo da minha vida, meus olhos foram testemunhos dum acontecimento entre tantos que para mim foi maravilhoso. Foi na cidade de Praga onde segui a transmissão em direito duma demonstração da tecnologia industrial dos checos. A televisão local apresentava a transferência de um catedral erecto duma cidade a outra. Ver um super-camião carregando nas suas costas de ferro um edifício daquele tamanho mudando-lo de uma vila a outra, era para mim um milagre tecnológico. Neste dia a minha consciência refutou aceitar a imagem dos acontecimentos que meus olhos transferiam-na. Os meus sentidos físicos não acreditaram mesmo quando a realidade foi visível. Da fundação ao tecto! mas tudo estava arrumadinho em cima da transportadora, cada bloco no seu lugar, até mesmo a torre do sino. Foi um caso notável mesmo para toda a nação, comprovado pela curiosa população aglomerada ao longo do percurso. A policia trânsito acompanhava o evento para estabelecer a proteção e liberdade rodoviária. Um helicóptero assinalava a situação com antecedência, para além da equipa da local televisão que no silêncio cumpria o seu dever.

A verdade na mentira

Uma vez de visita em Bona, numa boa tarde de sábado animada pelas conversas amigáveis, acentuada pelos sabores de diferentes tipos de cervejas, licores e sumos, tentei relatar o acontecimento que presenciara em Praga sobre o deslocamento ou simplesmente transportação do catedral. A casa onde fui hospedado cheirava o enchente de amigos com suas esposas entre outros jovens que nesta bela cidade da Alemanha vieram saudar-me ou talvez matar o tempo, aproveitando queimar a gargante com o líquido suave. A minha narração provocou um terramoto de críticas. Uns falaram ironicamente, outros pejorativamente, alguns vomitaram gargalhadas. Fui considerado de mentiroso, aldrabão, inventor malífico, humiliado e ridicularizado até a péssima etc. Procurei defender-me dando mais argumentos mas a minha voz já cheirava mal que nenhum dos presentes queria ouvir. Mesmo sabendo conscientemente que contava o que aconteceu na verdade mas a voz da maioria condenou a minha numa culpabilidade assombreada. Implorei deuses da minha terra e dos meus antepassados mas a razão desistiu-me e refugiei-me na última posição: pondo a cauda entre as patas e dando lugar a tristeza de ocupar a minha pobre consciência. O resto do dia foi para mim silêncioso pois o gosto do sumo desaparecera cedendo o lugar a margura nas papilas gostativas da minha lingua colada ao palacio bocal. Passei toda a noite rezando para que haja um milagre. Procurei no vazio como defender a minha razão e assim provar a veracidade do sujeito. Foi uma longa, escurinha noite onde a maioria venceu embora injustamente.
Mesmo assim, a minha pouca consideração fez com que viessem mais amigos no dia seguinte, domingo. O serviço protocolar não alterou, porque era numa familia onde a bondade tem sido natural. A presença repetitiva dos visitantes do dia anterior roubou a paz da minha subconsciência mas não havia outra alternativa, senão murmurar no silêncio de um coração ferrido. Ninguém pensou repetir a conversa do dia anterior porque penso eu que consultaram-se por via telefónica e decidiram não voltar-na pelo facto que sentiram como afetou-me. Preferiu-se discutir mais sobre a banda, sobre a política na terra de Nguxi etc. Como não tinha uma boa disposição ausentei-me moralmente da comba refugiando-me nos aparelhos musicais talvez pudesse encontrar um bom DVD que aliviaria a minha desolação. De repente passou-se uma faíscada de imagens pela TV que cativaram as minhas lampadas visionárias. Sabias o que? Desta vez foi a TV alemã a transmitir uma cena da transladação de uma casa. Gritei alto e pedi que haja silêncio para que seguissemos o que lá se relatava com alta consideração. Graças a Deus que eu entendia um pouco desta língua da segunda guerra mundial. Assitiu-se silenciosamente, como se fosse num cimiteiro, o que aí se apresentava. Eu, cantonado numa cadeira não consegui reter o rio das lágrimas que desaguava na foz das minhas calças. Lagrimei quando o restante de visitas seguiam o programa. Infelizmente ninguém teve a coragem de desculpar-se pelos apelidos ou tratamento em geral que fui alvo no dia anterior. Assim terminou um dia em que entendi uma outra matemágica: Um mais a verdade constitue a maioria. Que a maioria não é apenasmente a quantidade númerica mas a qualidade daquilo que tem valor no tempo da prioridade e no espaço desejado.

O facto silencioso

Uma vez em Londres também tive a oportunidade de assistir, como sempre pela via televisiva, a deslocação de uma enteira população. Este facto de mudar os populares, meia centena de casas intactas e reajustar o resto da infrastrutura social no novo terreno aconteceu na aldeia de Kiruna, na Suécia. Esta cena que para mim foi mistério, é agora um simples facto, que até já não considero de milagre científico. Até porque com uma tecnologia tradicional no meu Béu translada-se as cubatas carregando paredes por paredes dando mais atenção no trio de suporte (m’bangu ye makunzi).
Nunca na vida a mentira irá dominar eternamente a verdade por isso, diziam os velhos sábios que a mentira não tem longas pernas.

JD Nsimba