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sábado, 21 de fevereiro de 2015

ANGOLA DE SOFISTICADA CANDONGA

Num período como este é um pouco difícil pensar em certas coisas, acontecimentos e fenómenos que vamos vivendo no dia-a-dia da nossa sociedade. Fazer uma reflexão sobre a candonga tornou-se empírico, talvez caduco. Isto porque já ninguém pensa em candonga, muito menos falar nela. Esse deveu-se não porque ela já sumiu na nossa sociedade mas pelo fato que alguém tem trabalhado no sentido de normalizar aquilo que ontem era anormal, combatido tanto pelo governo e pela sociedade em geral.

A candonga existe no nosso meio. Ela ainda vive e bem porque está sendo alimentado não só por indivíduos mas também pelas instituições, não só privada mas sobretudo estatais. A candonga é bem praticada mas num estilo muito mais sofisticado; fora da moda e do habitual. A candonga desenvolveu-se, metamorfoseou-se, ela tomou e se vestiu de outras cores e luzes. Ela encontrou outros praticantes e transferiu-se da classe baixa a classe mais articulada.

A candonga é um fenómeno sociocultural, socioeconómico que nasceu de forma instintiva na consciência do povo angolano uma vez a procura e a oferta ficaram longamente desequilibradas. A candonga é o processo pelo qual o povo cria meios de sustento aplicando-se numas actividades comerciais que garantem lucros volumosos. Ela é um processo que não obedece as regras estabelecidas pela autoridade, que também não aprova esta pratica. Ela é a forma como o angolano estimulou a sua capacidade entrepreneurial para criar uma plataforma de troca de produtos, ou de venda para sustentar a sua família. A candonga era uma prática ilegal, combatida com toda energia pelo estado marxista angolano. A candonga estimulou também outras práticas no seio da sociedade tais como o desvio de fundos e roubo de produtos nas empresas do estado. Nos tempos, muitos candongueiros foram presos. Muitos angolanos praticantes desta foram também mortos nas prisões, outros atrevidos morreram nas minas em varias fronteiras angolanas. Outros ficaram até hoje desaparecidos que nem o governo tem explanação, embora que estes estavam sob custódio do governo em varias prisões, quartéis e esquadras. Há quem perdeu seus bens em detrimento a uns oficiais que hoje poluem os palcos de ricos angolanos.

Muitos entre aqueles que ontem praticaram este processo tomaram outros rumos das actividades laborais. A candonga hoje tem outros praticantes, aqueles que ontem souberam energicamente e brutalmente combater os praticantes. A candonga é já uma modalidade que facilmente enriquece os praticantes. Eles fizeram com que esta actividade seja oficialmente praticada pelos meigos do clube da alta sociedade, pela elite e tribos valorizadas da nação. Ela ganhou uma conotação positiva e já não cheira kimbombo.

A candonga é hoje praticada nos grandes gabinetes. Ela foi oficializada pela corrupção que perfume a nação. Seus melhores adeptos são os ‘’coluneiros’’ em gravata, que viajem em primeira classe e muitas vezes discutem os problemas angolanos. Outros foram projectados na lista dos heróis de Angola; que não sabemos com que critérios. Esses ajudaram a candonga cobrir-se com a bandeira da nação. A candonga angolana anda também de casaco, talvez tem patentes e possivelmente vive nos palácios! Esta mudança fez com que o angolano já não fala deste fenómeno. Ele passou do negativo ao positivo e foi normalizado até elogiado na consciência angolana.

Espero que alguém tenha piedade da nossa economia e entenda que este processo não é normal mesmo que as actuais circunstâncias forcem-nos a recebe-la como se fosse. Este assunto deve ser abordado diferentemente e botado fora da nossa sociedade. Como dizia um antigo Comissário Provincial de Luanda ‘’quando é praticada por uma kitandeira fala-se alto ate na mídia mas quando o autor for autoridade, ninguém fala’’ Existe alguém nas fileiras disponível para provar-nos como a candonga é hoje boa e criar dividendo nas caixas do governo? O que hoje faz dela aceitável? Quando foi ela exonerada e posteriormente empossada? por quém e em que decreto? A candonga não é saudável, é um parasitário sustentado pela improdutividade e protegida pela corrupção e injustiça.

O bem mal adquirido, não…

 

Nkituavanga II