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quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

SOCIEDADE: A VERDADEIRA VIDA DE MAMBUENE XAVIER

Muitas coisas ocorrem nas nossas vidas; muitas delas tem uma explicação mas certas não se aclaram. Não se explique, porque não sabemos suas origens; pouco importa se trazem infelicidades ou prazeres na nossa vida mas aconteceram e tem acontecido. Quando elas oferecem-nos prazeres ficamos motivados e felicitamo-nos, glorificando-se do que conseguimos de produzir e aplaudimos as nossas capacidades em savoir-faire. Porém quando somos alvo das infelicidades ficamos perturbados por um longo período de auto-condenação. Assim colocamo-nos no banco dos réus, culpados de tudo e começamos investigar as circunferências sociais da nossa vida cavando motivos, razões, justificativos e procuramos alternativas em vão. Contudo a vida é uma sucessão de eventos contraditórios.

Pausei de pensar acerca de sucessos e insucessos da minha vida para num lapso de tempo reflectir sobre a controvérsia vida de um primo meu. O primo Mambuene foi e é um homem corajoso com muita criatividade. Tanto na vida estudantil como trabalhadora funcionou com vigor e vivacidade para conseguir um futuro melhor. Ele foi ainda na época colonial um dos primeiros jovens do Béu que deslocou-se para Maquela prosseguir conhecimentos escolares no secundário. Contudo foi também entre os primeiros jovens que deslocaram-se para Luanda à procura da vida, isto antes da chegada da revolução. O primo Mambuene Xavier teve uma fama na minha comuna do Béu, vistos os actos da bravura pelos quais foi sempre identificado. Ainda me lembro que foi o primeiro jovem, negro colonizado a aterrar de avião na pista do meu Béu, vindo do município.

A chegada da revolução encontrou-lhe em plena vida em Luanda. O facto de ser natural do norte causou-lhe problemas no seio da sua vizinhança uma vez que carimbaram-lhe com o selo da FNLA. Dali teve que salvar a sua vida, depois de um longo período de refúgio em casa de um certo bondoso. Uma vez que chegou na sua terra natal, a sua presença foi logo notificado. Ele passou mais tempo da sua vida em Luanda comparando com a da sua adolescência no Béu. Quando lá voltou, Béu já não tinha a perspectiva que ele conhecera. Havia um crescimento demográfico que não imaginaria pois muitos primos, tios, enfim familiares que há longos refugiaram para o Congo regressaram na nossa terra. Na altura viver no Béu era tão doce que em qualquer cidade de Angola. Conhecer seus familiares que reforçaram o volume das aldeias inspirava uma doçura nos miolos do cérebro. Os mercados eram superlotados com jovens e nómadas comerciantes que ofereciam produtos variados. O próprio ar atmosférico era aromatizado com o perfume das belíssimas garotas que enchiam as três picadelas do Béu, mas as de Maquela, Kibocolo, Kuilo e Sacadika também reforçavam o brilho.

No Béu, o meu primo Mambuene foi um entre os activistas que organizaram protocolarmente a chegada do MPLA, sobretudo do primeiro contingente militar que por lá passara. Ele tinha mobilizado massivamente a criançola em torno da OPA. Quém no meu Béu não se lembra ainda aquela impressiva marcha que os pioneiros demonstraram numa das manifestações do 1. De Maio. Isto é a verdadeira vida do primo Mambuene Xavier. Todo mundo sabia que tem um coração cristalizado e decorado com as cores do MPLA. Para além da sua filiação, meu primo merecia o cartão número um dos fanáticos do MPLA, que adorou.

Apois a normalização da situação política em Angola com o MPLA a governar totalitariamente a nação com a famosa ideologia marxista-leninista o primo Mambuene tinha trabalhado como bom patriótico na educação. Ainda revejo-lhe percorrer as picadas de Kissama, Muxima até Mombondo com suas motorizadas empoeiradas. Ele trabalhou como coordenador municipal da educação, desfilando dias e noites as terras batidas de Kissama-Luanda só para ver as crianças deste com uma digna educação. Meu primo nunca gostou de candonga, nunca praticou bajulação, também odiava a corrupção em todas as formas. Ele acreditou completamente e totalmente no MPLA que se tornou fiel mas cego fanático. Para ele o movimento dos camaradas era uma santa estrutura, onde não se cometia erros e que tudo era somente brilho. Ainda me lembro certas vezes que vinha em missão de serviço para levantar a verba dos educadores. Não se importava chegar em casa visitar a família porque pensava estar em missão e não férias. Muitas vezes arriscou a sua vida quando era sucessivamente assaltado pelos bandidos que muitas vezes desarmavam-lhe as verbas e as motorizadas. Quantas vezes ficamos sem comer (jejum da sua fidelidade) só porque o primo foi assalto? Ele se preocupava mais com as motorizadas que eram-lhe desarmadas que da sua vida. Ele teve mais de 10 motorizadas da educação mas hoje anda a buti como eu. De década em década sempre de motorizada, mesmo quando formou-se a província do Bengo e passou da educação para um novo projecto da ODP e Brigadas da vigilância. Meu primo trabalhou fielmente confiando a sua alma no MPLA porque nele acreditou. Quando chegou o vento da democracia e o MPLA já não precisou dele. Assim perdeu seu trabalho sem nenhum reconhecimento.

Hoje, desiludido e amargurado pela pílula que lhe foi administrada pelo Partido do Trabalho que o condenou ao desemprego. Tem desenrascado sua vida fazendo biscates nos bairros da periferia de Luanda. O MPLA já não se lembre dele, e ele, mesmo magoado continua cavando talvez que encontre um dia os restos de ossos, já que os churrascos foram devorados pelos membros da elite. Muitos (membros do BP como cabolas) ainda hoje vivem a decepção imposta pelo MPLA e continua orando que haja milagres, portanto o enriquecimento é para os outros eeeee…

JDNsimba©2010publ/014